Diário do Amapá - 31/07/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / Covid-19 ampliou a percepção e a visibilidade de estudo do Programa das Nações Unidas para o Desen- volvimento (PNUD), que classificou o Brasil como o sétimo país commais desi- gualdades, melhor posicionado apenas do que seis nações africanas, e o segundo com a maior concentração de renda, atrás somente do Catar. Tais assimetrias já se refletem de modo mais acentuado nas difi- culdades da população carente, em meio aos danos econômicos provocados pela pandemia, que agravam nossa histórica dívida social. O relatório do organismo da ONU foi divulgado recentemente, mas os dados são referentes a 2017. De lá para cá, conside- rando a crise que o País já vinha enfren- tando, com mais de 12 milhões de desem- pregados, a situação somente piorou, atin- gindo um grau ainda mais tóxico no cená- rio atual causado pelo novo coronavírus. Nesse contexto, é indispensável a ajuda do governo, como na concessão do auxílio emergencial de 600 reais e trabalho dos fundos de solidariedade dos municípios e estados, das empresas, das entidades de classe, de toda a sociedade e das famílias. Todos têm se mobilizado, dentro da capa- cidade de cada um, para socorrer as pes- soas necessitadas, doando alimentos, rou- pas, remédios e equipamentos de proteção individual. Essa mobilização ratificou o perfil soli- dário dos brasileiros. Entretanto, ante as dimensões do problema, o aporte de recur- sos demandado é muito superior à capa- cidade financeira das famílias e do univer- so corporativo, abalados pela nebulosa conjuntura, bem como do Estado, que há muito está mergulhado em profundo abis- mo fiscal. Além disso, não se pode admitir a caridade individual e o assistencialismo estatal como soluções definitivas para as desi- gualdades socioeconômicas. Crescimento do PIB, com distri- buição de renda e inclusão, deve ser a prioridade da agenda nacio- nal do desenvolvimento. O êxito nessas metas somente será possível com a geração maciça de empregos, que depende de nossa capacidade de resolver os problemas que já enfrentávamos antes da pandemia, somados à maior complexidade que ela provocou. É um desafio elevado à terceira potência, mas que nos cobra, da maneira mais dura possível, o tempo que perdemos ao não resolver questões básicas, como o "custo Brasil", a insegurança jurídica, a burocracia exagerada, a limitação do cré- dito para investimentos produtivos, os altos impostos, os empecilhos à boa logística, o inchaço estatal e todos os demais fatores, há muito conhecidos, que reduzem paula- tinamente nossa competitividade, sacrifi- cam empresas e provocam desemprego. Precisamos de soluções concretas para o déficit social brasileiro, simultâneas ao assistencialismo do Estado e da sociedade, para ir reduzindo pouco a pouco as desi- gualdades e promovendo a inclusão pelo trabalho, o meio mais eficaz de combater os efeitos da pobreza e de proporcionar vida de melhor qualidade à população. E precisamos aprender com as adversidades que isso pode e deve ser feito em caráter emergencial e, num aspecto mais amplo, como estratégia de políticas públicas estru- turais. Temos exemplos concretos da viabili- dade de medidas dessa natureza. Um deles chama-se "Pertinho de Casa", iniciativa da Federação da Agri- cultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), ante a ameaça que a pandemia impôs a numero- sos pequenos e microprodutores rurais e varejistas de alimentos, impedidos de colocar os produtos no mercado. Trata-se de um apli- cativo que possibilita a compra dire- ta por parte dos consumidores e cujo sucesso evitou que muitas famílias engrossassem a fila do auxílio emergencial do governo e o rol dos socorridos pela fra- ternidade. Estão produzindo, vendendo, ganhando seu dinheiro e atendendo milhares de pessoas. Tal objetivo também foi alcançado em outra ação liderada pela entidade: centenas de costureiras, muitas delas instrutoras dos cursos do SENAR-AR/SP (Serviço Nacio- nal de Aprendizagem Rural), foram mobi- lizadas para produzir milhões de máscaras destinadas a produtores e trabalhadores do campo e a santas casas de misericórdia do interior paulista. Essas mulheres, muitas delas arrimos de família, estariam sem renda no momento mais agudo da pandemia. Con- tudo, estão trabalhando e se mantendo. A atenção social do Estado e a solida- riedade humana serão sempre bem-vindas e necessárias, mas não podem perpetuar-se como políticas públicas de enfrentamento das desigualdades. É prioritário incluir as presentes e futuras gerações na economia e no mercado, outorgando-lhes efetiva cida- dania, com um projeto de desenvolvimento que contemple a distribuição mais justa da renda, por meio da educação de qualidade para todos e do trabalho digno. pandemia do novo coronavírus jogou luz sobre um debate travado há anos no país: o uso de tecnolo- gias e soluções digitais para otimizar pro- cessos, reduzir custos e aperfeiçoar a capa- cidade operacional das instituições de saú- de. Embora ainda enfrentem localmente certa resistência regulatória e cultural do setor, as health techs - startups que desen- volvem tecnologias para o mercado de saú- de - mostraram nos últimos meses a sua importância ao contribuírem com a rede pública e privada no combate ao vírus por meio de sistemas inteligentes que mapeiam zonas de risco, antecipam cenários críticos e agilizam tratamentos, entre outros. Uma das áreas mais estratégicas das companhias, a gestão de estoque de insu- mos médicos ganhou os noticiários de for- ma negativa no início da crise, em março, quando a corrida por itens hospita- lares relacionados à Covid-19 supe- rou a capacidade de produção dos fornecedores, desequilibrando a cadeia de suprimentos dos hos- pitais de pequeno, médio e gran- de porte e provocando desde con- fiscos até a chamada "crise do abastecimento". A partir daí, sur- giram iniciativas para preencher essa lacuna descoberta pelo caos da pandemia. Uma delas foi da Bionexo, que abriu seu marketplace digital para aproximar hospitais e fornecedores, agilizando o pro- cesso de compras e aproximando a tecno- logia das instituições de saúde. Por meio de uma parceria com a Universidade de São Paulo (USP), a companhia também criou uma plataforma gratuita que auxilia hospitais públicos e privados na aqui- sição de suprimentos médicos, de modo a evitar desperdícios, esti- mular a colaboração e antecipar demandas e necessidades, abas- tecendo os estoques de forma efetiva na pandemia. Dessa forma, as health techs vêm desempenhando um papel fundamental neste momento de pandemia, criando não apenas solu- ções digitais que auxiliam as organi- zações na gestão de suprimentos médi- cos, mas também democratizando o aces- so de hospitais de pequeno e médio porte às tecnologias mais recentes de análise de dados e inteligência artificial. Nesse sentido, a pandemia pode ser encarada como divisor de águas entre as medicinas analógica e digital.

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