Diário do Amapá - 14 e 15/06/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / ma jovem mulher queria tirar a carteira de motorista e se inscreveu numa autoes- cola. Certo dia, durante uma aula de dire- çãoprática, numa rua commuito trânsito, o ins- trutor disse baixinho no ouvido dela: - Ouvi bem? Você me chamou de “meu que- rido”? - Senhor! – gritou espantada a jovem se virando para o lado do homem. O instrutor, sor- rindo, disse para ela continuar olhando para a rua. Depois acrescentou: - Não se preocupe. Faço isso com todos os alunos, para lhe ensinar uma lição: não ligue para o que os outros lhe dizem. Quem dirige deve ficar sempre atento na estrada. No 11º Domingo do Tempo Comum, reto- mamos a leitura do evangelho de Mateus. Depois do grande discurso do Monte (cap. 5-6 e 7), o evangelista apresenta as “obras” do Messias, sobretudo ascuras e a tempestade acal- mada. No entanto Jesus não deixa de chamar pessoas a segui-lo, como faz com Mateus, o cobrador de impostos. É,porém,na página deste domingo que Jesus escolhe os “12”. Os nomes deles estão aí, para sempre, com as suas diver- sidades, dúvidas e medos, como veremos no próximo domingo. Era comum, naquele tempo, e hoje também, com as devidas diferenças, que um “mestre” tivesse ao seu redor discípulosdis- postos a aprender com ele. “Seguidores” de ver- dade, prontos a partilhar a vida dele, não meros amigos virtuais, cada um sentados no sofá da sua casa, como acontece em nossos dias. Eles tinham deixado família e trabalho para segui-lo. Essa tinha sido uma primeira vira- da na vida deles.Agora Jesus os envia emmissão com algumas recomenda- çõesclaras, inovadorase muitosdesa- fios. Antes, porém, o evangelista coloca novamente Jesus “vendo” as multidões. Na primeira vez, depois de “ver” as multidões, ele tinha oferecido o seu ensinamento (Mt 5,1-2). Dessa vez,o seucoraçãose enche de compaixão pelo povo cansado e abatido, parecendo “ovelhasque não têmpastor”.Ou, numa outra comparação, um campo pronto para a colheita, mas largado por falta de trabalhadores. Jesus convida a rezar, a pedir ajuda ao “dono da mes- se” e, ele mesmo, começa a escolher e a enviar os operários. Com isso, entendemos que a Igreja é mis- sionária por constituição. O dia que deixasse de evangelizar, deixaria de ser a Igreja que Jesus quis. Mas, atenção, juntocom a ação vai também a oração, porque sem a força e a luz do Espírito Santo a missão se tornaria propaganda. Ela não é o resultado de um planejamento ou de um esforço de vontade nossa, como diz Papa Fran- cisco, na sua mensagempara o DiaMundial das Missões do próximo mês de outubro: “É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma”. Tudo isso, porém, não significa que a obra, nunca acabada, do anúncio do Evangelho seja algo improvisado, sem rumo, sem meta e sem conteúdo. Não. Jesus, é claro. Tem que começar pelas “ovelhas perdidas da casa de Israel”, o povo eleito. Depois virão também os samaritanos e os pagãos, como os apóstolos fizeram. Funda- mental, contudo, é a mensagem que devem comunicar: “O Reino de Deus está próximo”. Deus não está longe, está aqui no meio da humanidade, dei- xa-se encontrar, porque fala, cura, doa vida nova, salva e liberta por meio do seu Filho Jesus. Por fim, um sinal inequi- vocável para reconhecer a autêntica ação evangelizadora: a gratuidade. A missão não é um “negócio”. Quem reconhece ter sido alcan- çado “de graça”, sem merecimento algum, pelo am or de Deus, por puro dom da sua bondade, deve também partilhar generosamente este bem tão precioso com quem o quiser acolher. Esse é o “foco” da missão da Igreja: fazer saber à uma humanidade confusa e atraída por infinitas propostas de felicidade que o caminho para dar um sentido grande à vida é o segui- mento de Jesus Cristo. Com ele, aprendemos a confiar no único “mandamento” que é o verda- deiro bem ao nosso alcance e que ninguém pode nos roubar: o amor doado que nos faz felizes alegrando os outros. O cristão é como ummoto- rista que está dirigindo. Não pode se deixar dis- trair por qualquer conversa ao seu redor. O seu olhar deve ficar sempre atento na estrada. Jesus é, ao mesmo tempo, o caminho e a meta da via- gem. Vamos lembrar. ano era 1986 quando dirigia a Pastoral Carcerária e dos Direitos Humanos da diocese de Macapá. Lembro-me de que estávamos saindo do regime militar e, assim, com a minha equipe decidimos reali- zar um simpósio sobre a violência, como contribuição para unir todas as forças polí- ticas e religiosas do então território federal do Amapá em oposição à violência que esta- va avançando sempre mais. Naquela ocasião, a figura de destaque do simpósio foi dom Helder Câmara, mas tam- bém participou como palestrante o padre Bruno Secchi. Quando o encontrei pela pri- meira vez, vi nele uma pessoa simples, bem magrinho e sorridente. Senti nele uma fir- meza em narrar a sua obra República do Pequeno Vendedor em defesa das crianças e adolescentes de rua. A partir daí, nunca mais o esqueci, embo- ra nos primeiros tempos não tivemos mais contatos. Sempre seguia padre Bruno pela imprensa. Passaram alguns anos e o destino quis a nossa aproximação, porque fui trans- ferido para a arquidiocese de Belém com a finalidade de dirigir a Pastoral de Comuni- cação. Comungávamos ideais e vida fundadas na Palavra de Deus. Secchi mais experiente que eu me dava aulas de como viver melhor e mais concretamente a vida seguindo Jesus Cristo. Um desses testemunhos que sempre me deixa- vam profundamente firme era a sua humanidade. A Palavra de Jesus não podia ser abstrata, mas encar- nada no ser humano. E aquele seu sorriso confortador acompanhado da frase “menino, como vai?” Quantas vezes fiquei pen- sando sobre a expressão “menino” e entendi realmente que perante o nosso Mestre Nazareno somos sempre pequenos em segui-Lo, isto é, “menino”. A vida de Bruno foi defender os meninos e meninas. Homem de Deus, defensor dos direitos humanos fundamentados em Deus, nosso Criador. Era isso que lhe dava paciência em nunca desistir. Sempre firme na sua fé, não se dei- xava distrair pelos poderes do mundo, em seguir este caminho de plasmar de novo a verdadeira vida perdida ou corrompida. Por- tanto, nosso padre Bruno foi um grande cola- borador de Jesus Cristo por recriar e defender a VIDA, remando contra a correnteza das injustiças sociais. O sorriso dele ainda está estampado na minha memória. Quando o via por demais concentrado e com rosto sisu- do, aí percebia que algo o preocupava muito. E uma das coisas que o dei- xava bem triste e em silêncio era ver coirmãos e pastores da Igreja fazendo escolhas bem longe do Rei- no de Deus. No entanto, ele sempre se deixava vencer pela Misericórdia de Deus. Assim, acreditava cegamente que todo mundo, com o tempo, era vencido pelo amor do nosso Criador. Quando che- gava a essas considerações, sempre o acom- panhava aquele sorriso de compaixão e de bondade que invade o ser humano, injetando total esperança. E por que isso? Porque vivia tudo como bom discípulo do Mestre, aberto a todo mundo, sem preconceitos de credo reli- gioso ou político. Para o sacerdote amigo dos mais fracos da sociedade, todo mundo era irmão ou irmã. Ele acreditava nas pessoas também quando aprontavam porque focalizava mais no aspecto positivo e discernia neles a ação do Reino de Deus. Padre Bruno foi um apaixo- nado por Jesus Cristo e pelas pessoas, sobre- tudo daquelas que tinham mais dificuldades ou eram abandonadas.

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