Diário do Amapá - 27/06/2020

Manifestações O médicocardiologistaPapaléoPaes, de 67 anos, morreupor voltade23h30 destaquinta-feira(25) na Unidade deTerapiaIntensiva(UTI) do Hospital São Camilo, em Macapá, onde ele estava internado há cerca de uma semana, após ter sido transferido do Hospital da Unimed, onde agravou o quadro infec- cioso provocado pela Covid-19. Após ter sido diagnosticado com o novo corona- vírus, Papaléo iniciou o tratamento, mas agravou rapidamente. JánoHospital São Camilo, sofreu uma septicemia. Chegou a passar por processo de hemo- diálise, apresentando leve melhora, mas acabou não resistindo. Em nota, já na madrugada desta sexta-feira (26), o presidente do Senado, DaviAlcolumbre, externou pesar pela morte do médico e político amapaense. “Uma partida repentina que comove a todos que conheciamagentilezade umhomemcujoolharsem- pre foi generoso e que fezdo amor ao próximo a sua profissão. Sempre trabalhou pelo Amapá com afin- co e compromisso”, diz trecho da nota. O governo do Estado, também emnota, decretou luto oficialde trêsdiasemmemóriado ex-vicegover- nador e das demais vítimas da Covid-19. “Alémde vice-governador, foi prefeito de Maca- pá e senador da República. Papaléo deixa um gran- de legado pelo trabalho desenvolvido na vida públi- ca, sendo um político atuante em várias décadas e médico extremamente dedicadoàprofissão, emespe- cial ao cuidado dos mais humildes”, cita trecho da nota governamental. De médico a senador da República; Papaléo Paes teve uma trajetória de vitórias e decepções Médico cardiologista entrou para política e teve passagens pelo governo do Estado, Prefeitura de Macapá eSenado Federal. Em2018ele renunciou ao cargo device-governador emmeio à uma crise polí- tica interna no Setentrião. O médico João Bosco Papaléo Paes, de 67 anos, nasceu em Belém (PA) em 27 de agosto de 1952. Sua biografia é marcada pela dedicação à medicina, e, posteriormente, ao universo político. Ao entrar para a Universidade Federal do Pará (UFPA), Paes se dedicou à medicina. Após se formar, seguiu para o Rio de Janeiro (RJ) onde fez sua especialização emcardiologiano Hospital Miguel Couto.Aindano RJ, Papaléo também se especializou em medicina desportiva, naUniversidadeFederal do Rio de Janei- ro (UFRJ), e medicina do trabalho, na Universidade Gama Filho. Já no Amapá, o jovem médico teve uma carreira profissional brilhante, consolidou nome e se tornou uma das maiores referências na área da cardiologia. Com jeitofácildesecomunicar esempre muitopres- tativo, ampliou em pouco tempo seu leque de ami- zades e acabou despertando para o cenário político. Em 1990, aos 38 anos de idade, veio o primeiro grande desafio político de Papaléo. Filiado ao então Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRO- NA), que tinha como cacique nacional o também médico cardiologista, EnéasCarneiro, queaindaera conhecido por suas referências como militar, físico, matemático, professor e escritor, Paes lançou candi- datura ao governo do Amapá. Naqueleano, Papaléo disputou acadeira do Palá- cio do Setentrião com o comandante Anibal Barce- los (PFL), Gilson Rocha (PT),Abelardo Vaz (PTB), Guairacá Nunes (PDC), Antônio Cabral de Castro (PDT) e Bernardo Rodrigues (PMDB). Tendo comovice-candidatoAdriano Lago, Papa- léo pleiteou a eleição com chapa pura [sem coliga- ção] obtendo no primeiro turno 18,76% dos votos válidos, ficando em terceiro lugar geral. O segundo turno foi disputado por Gilson Rocha e Anibal Bar- celos. Em25denovembro daqueleano,com67,02% dosvotosno turno decisivo, o comandante Barcelos vencia o pleito, assumindo o comando do Estado. Doisanosdepois [1992], jáno PSDBe commaior musculatura política, Papáleo Paes decidiu disputar aprefeituradacapital [Macapá], que tinhacomo pre- feito há época João Capiberibe (PSB). O pleito eleitoral foi disputado por Papaléo com os candidatos Murilo Pinheiro (PFL), Idelgardo Gomes (PT) eJacySiqueira(PRN). Paes –que dife- rentedaeleição para governo do Estado – tinha uma aliança com sete partidos na eleição municipal, aca- bou eleito prefeito de Macapá. Elevoltaria adisputar ocomandodo Palácio Lau- rindo Banha [sededa prefeitura] no anode2000. Foi uma das eleições mais acirradas. Papaléo já estava filiado ao PTB e acabou derrotado – com uma dife- rença de apenas 415 sufrágios - pelo candidato João Henrique Pimentel (PSB). Aderrota daquele ano o fez desenhar um projeto ao Senado. Em 2003, o médico amapaense era elei- toeassumia cadeiradesenador,ondepermaneceuaté 2011, pois não conseguiu reeleger-se. Após rápida passagem pelo MDB, retornou ao PSDB, em 2005. Em 2006, tentou novamente o governo do Estado do Amapá, ficando em terceiro lugar. Em2014, Papaléocompunhachapacomo vice de Waldez Góes (PDT). Juntos, no segundo turno, Papaléo e Waldez são eleitos com 60,58% dos votos, pondo fim à tentati- va de reeleição do então governador Camilo Capi- beribe (PSB). Mais tarde, em 2018, Papaléo e Wal- dez, na tentativa de consolidar uma nova parceria para reeleição, tiveram uma das mais graves crises políticas da história. Ostentando título de vice-governador, Paes aca- bou sendo preterido do cargo de vice na chapa de Waldez, que optou pelo nome do empresário Jaime Nunes (PROS) para a nova disputa. A substituição gerou insatisfação e em 7 de agosto de 2018, Papa- léo Paes reuniu a imprensanoPalácio do Setentrião, onde anunciou a renúncia do cargo. Terminava ali uma longa aliança política entre Papaléo e Waldez. Como o somdeumcoração batendo acelerado, pal- mas sincronizadase choro coletivo quebraramo silên- cio na despedida do médico cardiologista e político João Bosco Papaléo Paes, de 67 anos, que morreu na noite de quinta-feira (25) na UTI do São Camilo, em Macapá, vítima da Covid-19. O corpo foi levado para uma funerária no bairro Santa Rita, zona sul da capital, de onde o cortejo saiu às 8h30 da manhã em direção ao hangar do governo do Estado, onde a urna funerária seria embarcada em uma aeronave com destino a Belém (PA), para sepul- tamento. O translado foi transmitindo aovivo pelarádio Diá- rio (90,9FM) durante o programa LuizMeloEntre- vista , e pelas redessociaisdo SistemaDiáriodeComu- nicação, onde centenas de ouvintes e internautas se manifestaram emocionados na despedida. O caminhão do Corpo de Bombeiros, utilizado em cerimônias envolvendochefesde Estado eoutrasauto- ridadesepersonalidades relevantes, chegou aser posi- cionado, mas, devido aosprotocolosdesegurançasani- tária, a urna não foi levada em carro aberto. O funeral do homem que ocupou o cargo de pre- feito da capital, senador e vice-governador do Ama- pá, foi marcado também por inúmeras homenagens durante o translado. Das mais formais, como notas, coroas de flores e pronunciamentos de autoridades, a outras bem mais simples e emocionadas, como pes- soas do povo, ex-pacientes e anônimos. Cada umcom um gesto particular de render sua homenagem, mas, de forma coletiva, todos erguendo os braços em sinal de gratidão. Orações solitárias ou em grupo ditaram o ritmo do cortejo. As homenagens feitas por colegas de profissão ini- ciaram em frente ao Hospital da Criança e do Adoles- cente (HCA), naAvenida FAB, seguindo com paradas em frente à Maternidade Mãe Luzia, Hospital de Clí- nicas Alberto Lima – onde Papaléo dedicou boa parte desuavidamédica–SecretáriadeEstadodaSaúde, Pre- feiturade Macapá,MinistérioPúblico, PaláciodoSeten- trião [sede do governo estadual] e Tribunal de Justiça doAmapá. Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliarese trabalhadoresdossetoresde limpeza, copa e cozinha, uniformizados e segurando balões brancos, rezaram e se emocionaram com a despedida. NaPrefeitura deMacapá,servidoresegestoresposi- cionaram-serespeitosamenteparaasdespedidasdo ex- prefeito da cidade. “Papaléoeraumgrandeamigo, lem- bro de umencontro, em 2018, na entrega da Comenda Janary Nunes, na homenagemque fizemosaos ex pre- feitos, quando ele esteve presente, sempre sorridente, alegree sereno. Homemsimples, dopovo, deixaráenor- messaudadesegrandes ensinamentospara todosnós”, disse o prefeito Clécio Luis. O médicoUiltonTavares, amigopessoal quese tor- nou porta-voz da família durante a internação de Papa- léo, disse que falar do amigo remete a coisas boas. “Tenho apenas boas lembranças dele, como sua pri- meira campanha a prefeito, sem muito dinheiro e um convívio diário em sua casa, uma pessoa sempre ale- gre, do bem e que congregou muito político em seu entorno. Se vai a matéria, mas fica o legado”, relatou. Também, foram as lembranças da política que cha- marama atenção nafala do atual vice-governador, Jai- me Nunes, que lembrou até a marca do carro antigo com que Papaléo fazia campanha. “Ele chegou com a sua Belina simples para pedir o voto do meu pai, que sempredemonstrou muito respeito econfiançano dou- tor Papaléo. Homem integro e de um coração enorme, foi um estadista e grande humanitário”, recorda. Diversasautoridadesepersonalidadesdavidapúbli- ca amapaense, do meio empresarial e da saúde, reve- zaram-se em depoimentos, homenagens e publicação de notas de pesar pelo falecimento de Papaléo Paes. Os trêssenadoresda bancada doAmapácompareceram ao funeral. O governador Waldez Góes, outros chefes de Poder e o ex presidente da República, José Sarney, manifestaram-se tambémpor meio de notas de pesar e condolências à família. Por volta de 9h15 o cortejo chegou ao hangar do governo. Lá, em cerimônia mais reservada, familiares e amigos próximos renderam suas últimas homena- gens. “Éuma sensação desentimentos. O doutor Papa- léo sempreviajou ao nosso lado nessa aeronave. Hoje, o levo para fazer seu último voo. É um sentimento de honra, tristeza, mas também, de gratidão. Ele cuidou a minha mãe e sempre que me encontrava perguntava por ela. Ele queria saber detalhes sobre a saúde e sem- pre deixava uma porta aberta, caso precisasse de aten- dimento. Um ser humano fantástico e de um coração muito generoso. Acabou se tornando um grande ami- go. Hoje, o estou levando para descansar em sua últi- ma morada”, disse emocionado o comandante Vitor. A aeronave Seneca IV, prefixo PT-WFA, decolou da pista doAeroporto Internacional de Macapáàs9h43 com previsão de voo de 1h20. Em Belém, seria leva- do parao jazigodafamília ondeseria sepultado ao lado da mãe e de um irmão.

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