Diário do Amapá - 28 e 29/06/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / Solenidade de São Pedro e São Paulo é festa de toda a Igreja. Esta Igreja feita de santos e pecadores, cujo rosto muitas vezes nos parece inexoravelmente man- chado e outras resplandecente de luz. Encontrei umas palavras do Papa Paulo VI, agora santo, numa homilia de Pentecostes, quando ainda era arcebispo deMilão, em 1955. Elas chamaram a minha atenção porque ele foi um homem apaixonado pela Igreja e, muitas vezes, ensinou que devemos amá-la como ama- mos nossa mãe. Mas, naquela homilia, ele resu- miu o amor maternal que ela, a Igreja, tem para conosco debruçando-se sobre qualquer situação humana e o fez com estas palavras: “crianças, nos acolhe; jovens nos exalta; adul- tos nos bendiz; idosos nos assiste; morrentes nos conforta; defuntos nos lembra; pobres nos prefere; doentes nos cura; pecadores nos alerta; arrependidos nos perdoa; desesperados nos recria”. Se a Igreja está sempre pronta a nos oferecer tudo isso, porque ofendê-la, criticá- la, desprezá-la? Deveríamos agradecer. A nossa “santa” Igreja tem defeitos e sempre precisa de convers&atild e;o e reforma. Por ser também humana, nunca será perfeita aqui neste mundo. Mas erramos quando pretendemos melhorá-la de longe, de fora. Não tenho dúvida, a Igreja toda será melhor se eu, se cada um de nós, for melhor, mais santo. Por isso, escolhi refletir sobre este assunto na festa de São Pedro e São Paulo, pedras fortes e colunasdesta nossa, espe- ro, amada Igreja. Como qualquer cristão,nenhum dos dois nasceusanto, ambos errarammuito antes de acertar seguir Jesus mais de perto e até o martírio. Pedro deixou tudo para acompanharo mestre, tinha jeito de líder, dava conselhos a Jesus para que entrasse no esquema de messias que ele,Pedro, sonhava. Pos- suía uma espada, guardada em caso de necessidade,mas, na hora do medo, bastaram aspalavrasde uma empregada para fazer-lhe negar o Senhor trêsvezes. Depois que Jesus olhou para ele, porém, envergonhou-se muito do que havia feito e chorou amargamente asua traição.Foi um banho regenerador. Daquelas lágrimas nasceu um Pedro renovado, mais humilde, mais amoroso. O dom do Espírito Santo lhe deu a coragem de anunciar a ressurreição do Senhor a todos e de defendê-lo perante o Sinédrio. Seguiu firme até dar a sua vida, mártir, em Roma. O caminho de Paulo foi diferente, quase o contrário. Começou com muita raiva dos cris- tãos, queria acabar com eles porque achava que, fazendo isso cumpria a vontade de Deus. Ele nunca escondeu a sua história. Sabia que ainda, muitos anos depois, desconfiavam dele e que os antigos amigos, os judeus, o odiavam, o perseguiam e queriam vê-lo morto. No entan- to toda as suas certezas e seguranças ficaram lá, no chão, na estrada de Damasco. Reconhe- ceu a sua cegueira e, quando reabriu os olhos, entendeu que tudo era bem diferente. Aquele Jesus, o crucificado - agora ressuscitado - o chamava para uma missão absolu- tamente nova: anunciar o Evangelho aos pagãos, justamente àqueles que ele, antes, considerava irremediavel- mente perdidos e recusadospor Deus. Foi o apóstolo certo porque conhecia a língua deles, as suas cidades e os seus costumes. Em Roma, também, derramou seu sangue. É bonito, no dia de São Pedro e São Paulo, rezar pelo Santo Padre, Papa Fran- cisco, pelos pastores, pelos animadores, pelos cristãose cristãs que ainda hoje nãopodemmani- festar livremente a sua fé e correm risco de vida. Precisamos ter um olhar grande, quando avalia- mos a nossa Igreja.É bem antiga,vem lá do come- ço, dos apóstolos. Quantas ações maravilhosas já realizou! Quantasvezes teve que mudar, pedir perdão, curar feridas, buscar novos rumos! Papa Francisco convocará um Sínodo sobre a “sinodalidade”. Quase para nos lembrar que devemossempre maisaprendera caminharjuntos, a decidir juntos, a nos sentir parte viva da mesma família. Somos pecadores? – e quem não é? – a Igreja nos acolhe e perdoa. Achamos-nos tãobonspara julgar os irmãos? Partilhamos com eles as nossas virtudes e dons, mas, nunca, nunca, ficamos fora da mãe Igreja. Acabaríamos órfãos por escolha nossa, não por culpa dela. robô está presente em nossa vida, na nossa sociedade, e parece que a pan- demia da covid-19 acelera ainda mais sua presença. Nota-se como em algumas cidades do mundo diversos serviços são efe- tuados por meio de robôs, tanto na vigilân- cia quanto na prestação de serviços, bem como em restaurantes e, em alguns casos, nos hospitais, tudo isso para se defender do contágio do novo coronavírus. A robótica se tornou útil para enfrentar a doença e suas consequências, evitando aglomerações e contatos diretos entre as pessoas. Assim sendo, surgem perspectivas de vida em que o uso do robô é cada vez mais ativo, suplantando a atividade humana. A tecnologia vai tomando conta da socie- dade, sempre menos humana e mais técnica. Destaca-se, assim, uma relação no sentido ‘a mão única’. O que significa isso? Inicia-se, nesse sentido, uma exclusão de afeto que provém da escuta e do ficar juntos. E nessa relação do ser humano- máquina se promove o desenvolvimento de uma busca egocêntrica da mesma pessoa. Firma-se, portanto, o primado das certezas individuais sem comparação, de onde advém uma crescente dificuldade em se envolver com o outro. Pros- seguindo nessa experiência, não há dúvida de que a pessoa hoje se sente cada vez mais sozinha e, portanto, cada vez mais abando- nada. Além disso, todas as estratifica- ções sociais, políticas ou religiosas são direcionadas para esse modo de ser em que a pessoa se projeta no quadro de uma visão distintamente individualista. Consequentemente, o relacionamento eu- você se traduz no relacionamento eu-eu. A máquina, no entanto, sempre permanece um produto que nunca substituirá a pessoa. Não há dúvida de que o relacionamento homem- máquina se torna tão forte que cria a ilusão do relacionamento com o outro, e essa ilu- são depende da crescente incidência da ima- ginação. O imaginário está, portanto, se tornando a base da racionalidade do ser humano, na qual a capacidade de pensar é filtrada por esse ato constitutivo da pessoa que terá que encontrar as vicissitudes concretas da vida, experimentará uma crescente perplexidade e uma fragmentação caracterizada pela separação de uns dos outros. É uma época que viven- ciamos, na qual a lógica linear e consequencial; aquela tradicional, ou seja, do papel impresso, está sen- do substituída por uma lógica que- brada, típica do discurso publicitário. Isso tem um impacto significativo nas diferentes condições operacionais da própria pessoa. Assim sendo, os robôs que pretendem substituir as pessoas são estuda- dos e atualizados para poder dialogar melhor com os seres humanos e desenvolver funções mais precisas. E este suporte de inteligência artificial torna-se o objetivo principal do tra- balho. É natural a esse ponto se perguntar: qual o futuro do trabalhador humano? Aumenta o desemprego? Como sobreviver numa sociedade onde a técnica domina a humanidade? Estas e outras questões nos interpelam e precisamos dar respostas ime- diatas para que as pessoas possam ser pessoas e não simples objetos de outros sujeitos arti- ficiais da história.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDAzNzc=