Diário do Amapá - 03 e 04/05/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / m dia, lá pelo ano de 1530, um frade de Áscoli (Itália) perderao caminho. Encon- trando por acaso um pastorzinho, aproxi- mou-se do pequeno e perguntou-lhe: - Por onde é que se vai a Áscoli? – Sei, sim, senhor. Caminhemos devagar, a passo dos meus cordeirinhos, e eu o levarei até lá. Pelo caminho iam conversando. O frade notou que o pequeno era vivo, amável e de boa prosa. Soube que era filho de um trabalhador muito pobre,que nãosabia lere que estavaa ser- viço de um vizinho cuidando das ovelhas dele em troca de comida. O frade ficou encantado com o rapazinho e oconvidoua visitá-lono convento. Assim, a ida ao convento ficou o passeio preferido do rapaz nos seus dias de folga. Os frades gostaram do desembaraço e da inteligência do pastorzinho e pensaram que era bom colocá-lo para estudar. Em seguida, ele foi admitido na comunidade, estudou mais, foi ordenadopadre e chegou a ser professor de teologia. Confiaram-lhe cargos importantes e se desempenhou tãobem queo Papa onomeoucar- deal. Em 1585, após a morte de Gregório XIII, oantigopastorzinhosaiueleitoPapa comonome de Sixto V e foi um dos maiores Pontífices. Uma história de outros tempos para celebrar o Quarto Domingo de Páscoa, domingo no qual sempre encontramos um trecho do capítulo 10 do evangelho de João. Nele, Jesus se apresenta como o Bom Pastor que conduz as suas ovelhas.Essas ovelhassomos todosnós, os cristãos, felizes por segui-lo,porque conhecemos a sua voz. Ou seja, Jesus nos deve ser tão familiar que, antes de prestar atenção às suas palavras já nos dispomos a escutá-lo cheios de confiança. Neste domingo, rezamos pelas vocações, todas elas, mas de maneira especial pelas vocações ao sacerdócio ministerial na Igreja. Rezamos para que não faltem bons pastores para apascentar orebanho do Senhor. Com certeza Deuscon- tinua a chamar jovensaoseu serviço e esta cha- mada é profundamente misteriosa e pessoal.No entanto,devemos nosperguntaronde nascem as vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Nasfamílias, semdúvida,masvamosdizermais: todas as vocações surgem nas nossas comuni- dades.Também asvocações aomatrimôniocris- tão, não vamos esquecer. Hoje, porém, parece que faltem vocações ao ministério presbiteral. Temos padres envelhe- cendo e quem irá substituí-los no serviço? Evi- dentemente nós todos,comunidades/igreja somos responsáveisdisso porque muitodepende do tipo de comunidades que somosouqueremos ser. Se a primeira preocupação, por exemplo, é a orga- nização, opadre “bom” é o tipo empresáriodiri- gente. Mas a comunidade não é uma empresa. Se queremosmuitos“louvores”, o padre “bom” será aquele que distribui bençãosde todo e qualquer jeito. O importante é que não fale de política ou de justiça social. Enfim, se queremos um defensor da doutrina,o padre “bom” será o intelec- tual que usa palavras difíceis, que fazem efeito, e nos dá a impressão de saber tudo.Esse nosconve nce que os errados são sempre os outros e nós os “certinhos”, os melhores. E assim por diante.Esse padre “bom” nãoexiste,por- que sempre será difícil agradar a todos. Talvez os jovens de hoje tenhammedo das críticas e prefiram não se meter em con- fusões.Ou, por causa de tantas cobranças feitas aospadresse achem incapazesdesta missão.Claro que tem “medos”, prudências e incertezassaudá- veis, por isso, é preciso se preparar bem antes de serem ordenadospadres,porque cada umdeve ter consciência daspróprias limitações edificuldades. No entanto o que Jesus pede é que quem é pres- biteral seja, em primeiro lugar, um “pastor”, não outras coisas. O “pastor” das ovelhas “caminha à sua frente e as ovelhaso seguemporque conhecem a sua voz”. O padre-pastor caminha com a sua comunidade e a comunidade “conhece” bem o seu pastor.Ele temqualidadese defeitos,é huma- no, sente cansaço e tristeza, como todos. Não é ummero funcionário que tr abalha p ara cumprir um horário. É feliz por sua missão e quer que todos, também, sejam felizes de seguir o Senhor. Juntos com ele, sem perder ninguém. stamos passando por um tempo mui- to difícil. A humanidade toda está de “joelhos”. Eu imagino que daqui a algumas décadas, quando lermos os livros de história, uma figura será mostrada em destaque como único e importante líder mundial de nossa época. Não tenho dúvidas de que será o papa Francisco. Ninguém se lembrará de outros lideres. Realmente, nes- ses tempos de coronavírus, que estámatando muitas pessoas, sobretudo os anciãos, é o papa Francisco, com seus 83 anos, que dá esperança e conforto a todo mundo, sem exceção de ninguém. Ele é um homem idoso, que está no grupo de risco, mas que nem por isso se poupa. Pelo contrário, nos sustenta, encoraja e não se preocupa de se resguardar de possíveis contágios. Um exemplo disso foi vê-lo, como se fosse hoje, caminhando claudican- do pela praça deserta de São Pedro em dire- ção à famosa basílica na Sexta-feira da Pai- xão. Seu rosto tinha ar de cansado e não escondia preocupação. Aquela praça deserta, símbolo de uma humanidade encolhida e sem rumo, confia emPedro, Bispo de Roma. Naquele dia, ele falou para todo mundo, fiel ou não fiel, aos pobres do pequeno pla- neta terra, qualquer que fosse a religião deles. É aqui que os poderosos não se alinham comFrancisco. Ele fala cla- ro para que todo mundo o entenda, preocupando-se com um mundo globalizado que se distancia sem- pre mais da proposta do Reino de Deus, que Nosso Senhor Jesus nos confiou. Por isso, o Santo Padre é uma pessoa que faz a diferencia e é omais escutado e comentado. Fir- me da sua cátedra de São Pedro, ele emana tanta confiança e credibilidade que a humanidade o admira e reconhece Nele alguémsuperior a todos osoutroslide- res. Por exemplo, Trump, presidente dos Estados Unidos, disse publicamente a res- peito do atual papa: “É uma grande perso- nalidade”, e quando em 24.05.2017 se encontrou com o papa Bergoglio lhe falou: “Não esquecerei aquilo que me disse”. Um papa que mergulhou nomundo globalizado para pregar paz e justiça. Ele reconhece tam- bém o grande perigo da vinda de outra gran- de guerra mundial, definida por ele de uma guerra combatida “em pedaços”. Esta possível guerra mundial afetará, sobretudo, os mais pobres e aquela popula- ção que não conta nada. Não sei ainda ter uma visão clara e distinta dos rumos desses perigos bélicos, mas certa- mente reconheço que a vinda dessa pandemia de covid-19 colocou em crise todas as estratégias dos pode- res humanos, deixando desestabi- lizado o pequeno planeta. Os poderes, e todo ser humano, devem refletir seriamente a provi- soriedade do ser humano e de todos os seus poderes. Nesse sentido, o papa Francisco, fiel à Palavra de Deus, nos dá esse tes- temunho de fixar os nossos horizontes naquele que é ressurgido, Jesus Cristo. Ele é a nossa esperança. É a partir disso que pode- mos sair das nossas ambiguidades e egoís- mos. E como o Santo Padre Francisco espera que essestempos de pandemia, tão dolorosos, possam propiciar uma reconstrução de outro modelo cultural, em que o evangelho possa ser assumido de verdade e seriamente. O mundo necessita desses valores que favore- cem uma convivência mais fraterna, que pro- mova cada filho/a de Deus também sob o aspecto socioeconômico e ambiental. A força e a sabedoria de papa Francisco nos trazem luz nessas trevas que estamos passando. É o Pedro de Deus!

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