Diário do Amapá - 10 e 11/05/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / chava-se num asilo de velhos um antigo soldado que, apesar de sua vida de caser- na e acampamento, conservava-se dócil e acessível às verdades cristãs. Um padre, que o visitava com frequência, falou-lhe da devoção do rosário e ensinou-lhe o modo de rezá-lo. A Irmã do asilo lhe deu um terço e o velho militar achou tamanho consolo em rezá-lo, e sentia muito não o ter conhecido antes, dizendo que o teria rezado todos os dias. – Irmã – perguntou um dia – quantos dias há em sessenta anos? Ela fez o cálculo e res- pondeu: - 21.900 dias. – Irmã, e quantos terços eu teria que rezar cada dia para, em três anos, chegar a este núme- ro? – Vinte cada dia – disse a freira. Daí em diante, viam-no, dia e noite, com o terço na mão. Após três anosde sofrimentos, suportados com grande paciência, chegou,feliz, ao seu últi- mo terço daquela conta. Oscálculosdo velhinho também estavam certos. Poucos dias depois, aquele bom homem chegava ao fim da sua vida na certeza de ser acolhido nos braços de Nossa Senhora. Neste mês de maio, tradicionalmente dedi- cado aMaria,Papa Francisco convidou oscató- licos a rezar o terço “em família”. Parece uma proposta de outros tempos, mas, já que emmui- tos lugares tantas pessoas ainda terão que ficar “em casa”, por que não aproveitar para rezar essa antiga oração? É muito repetitiva, alguns criticam. Outros achammesmo que seja uma perda de tempo ou algosemelhante a alguma “prece poderosa”. O terço pode ser tudo isso, mas pode ser tam- bém muito mais. Por exemplo a repetição do nome de Jesus junto a um pedido de misericórdia é uma antiquíssima pérola da vida monás- tica oriental. Não é uma distração dos afazeres, mas uma forma simples de “ter” o Senhor mais presente em nossa vida, qualquer seja a ocupação naquele momento. Repetir é algo quase automático, ou seja, o nosso pensamento foge quando esta- mos dizendo sempre as mesmas palavras. Depende,porém, para onde ele “foge”. Se apre- sentamos ao Senhor e a Maria as pessoas que amamos, aspreocupações e os pedidos de ajuda para nós e para toda a humanidade, é uma dis- tração de fé e confiança, na certeza que Alguém esteja nos ouvindo. Não esqueçamos, também, que na reza do terço tem os que chamamos de “mistérios”: gozosos, dolorosos, gloriosos e os luminosos, introduzidospelo Papa S. João Paulo II. Por fim, rezar o terço é perder tempo? Nesse caso não tenho sugestão porq ue cada um de nós “perde” tempo como achar melhor, con- forme o que decide ser mais ou menos impor- tante em sua vida. Terço “em casa”, então, em família. Quem sabe, todos juntos, com a tele- visão desligada, para que, ao menos alguns minutos por dia,seja “ela” a rainha do lar, capaz de juntar todos e todas à sua frente. Pode- mos experimentar. Nestes tempos em que somos obrigados a parar a nossa vida superatarefada, talvez tenhamos a possibilidade de descobrir quanto seja importante ser donos do nosso tempo, para que nós mesmos reapren- damos a decidir mais livremente como ocupá-lo. Nossa Senhora, como uma mãe carinhosa, vai nos reunir e ajudar muito. Não falei, ainda, do evangelho do Quinto domingo da Páscoa. O evangelista João nos coloca duas palavras de Jesus mui- to conhecidas. A primeira é a afirmação: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6) e logodepois responde a Filipe que lhe pedia para que mos- trasse o Pai: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Esta é uma das verdades mais altas e sublime da fé cristã: é possível conhecer a Deus, o grande desconhecido, que todo ser humano busca mes- mo sem saber ou trilhando caminhos contrários. Deus é um Pai porque assim o Filho Jesus, no seu falar e agir, o revelou. Basta admitir asnossas dúvidas e nos deixar conduzir pelo Caminho, pela Verdade e pela Vida – sempre Jesus - não desistindo nunca da nossa inteligência, mas sim da pretensão de moldar a “deus” conforme os nossos gostos ou interesses. E o terço? Vamos juntos, alegres, com tantos Santos e Santas: “por Maria a Jesus” e...por Jesusao Pai. Para começar um terço por dia pode bastar. Vinte seria demais. catolicismo democrático nasceu e cresceu na Europa, no fim do sécu- lo 19, porque os católicos se preo- cuparam com a vivência dos valores da própria fé, uma fé encarnada na sociedade como um todo. Como se deve identificar a democracia de inspiração cristã? Creio que poderíamos dizer: é bem reformista. Isto é, segundo a Enciclopédia Treccani, o reformista é aquele movimento político que repudiando tanto os sistemas revolu- cionários quanto os conservadores, reco- nhece a possibilidade de modificar o orde- namento político existente somente por meio da atuação de orgânicas, mas gra- duais reformas. Assim sendo, é uma democracia que se caracteriza pela capa- cidade de mediação. Porém, essa media- ção não se define em agradar a todos, mas representar a todos, sobretudo os menos favorecidos e frágeis. Não temos dúvidas em afirmar que aqueles que aderem a esse tipo de demo- cracia, a laicidade na sociedade, vivem a maneira de ser cristão adulto. Gostei dessa definição de Pietro Scoppola, político e acadêmico italiano, que disse o seguinte a respeito da laicidade: “A laicidade não é apenas sobre os Estados, as leis, o modo de ser das Instituições. A laicidade é, antes de tudo, um modo de viver a experiência reli- giosa ao nível pessoal e interior; se falta esta condição interior também os aspectos institucio- nais da laicidade, eles serão enfraquecidos e, no fim, compro- metidos”. O Magistério da Igreja daquele tempo se pronunciou a res- peito disso, reconhecendo a impor- tância histórica dessa experiência de fé na política. E essa inspiração cristã na democracia de então solidificou um pla- nejamento em que se destacava a defesa da família, liberdade do ensino, referen- dos locais, centralidade dos municípios e formas de previdências sociais, repre- sentação proporcional e voto às mulheres, liberdade da Igreja e construção de uma ordem mundial nova. Tudo isso não era um compromisso político, mas uma proposta de convivência social, a partir da Doutrina Social da Igre- ja. E a famosa Encíclica RerumNovarum, do papa Leão XIII, 15.05.1891, também inspirou esse movimento democrático: “A sede de inovações, que há muito tem- po se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social. Efetivamen- te, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos de um pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opi- nião, enfim, mais avantajada que os ope- rários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da cor- rupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito...” Já se passarammais de cem anos e essa lição é tanto mais atual para os nossos tem- pos. Não por acaso, o mesmo Concilio Vaticano II, com a Gaudium et Spes, con- sidera o compromisso político como uma vocação especifica na Igreja. E a demo- cracia garante a participação dos cidadãos às escolhas políticas. Tudo isso iluminado pelos valores da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja.

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