Diário do Amapá - 05/03/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / as grandes cidades, a chuva está longe de ser um problema apenas climático. Como temos visto todos os anos, os assustadores alagamentos, enchentes e desli- zamentos têm se tornado cada vez mais comuns. Não é novidade nenhuma que a urbaniza- ção ocorreu de forma desenfreada, muitas vezes sem o planejamento necessário e cobrin- do rios que, anteriormente, faziam parte des- sas cidades. Avaliando desta forma, não pre- cisamos ser especialistas para saber que a dre- nagem da chuva precisa ser mais eficiente nos centros urbanos já que, por causa da pavimen- tação, a água não consegue achar um local para ser absorvida. Os bueiros, que deveriam ser uma solução para o excesso de água, aca- bam bloqueados pelo lixo e não dão conta da vazão, resultando em transbordamento nos períodos de fortes chuvas. Desde o início da história contemporânea, o ser humano sempre teve participação na degradação do meio ambiente. No entanto, antigamente a reposição natural desses recur- sos extraídos era feita de forma espontânea, orgânica. Atualmente, o que acontece são transformações no território e alterações nos ecossistemas e na biodiversidade de forma sis- temática e em larga escala, o que tem colocado em risco a própria existência humana. Por conta disso é que, nos últimos anos, começaram a surgir as Soluções Baseadas na Natureza, que nada mais são do que intervenções humanas inspiradas em ecossistemas saudá- veis, para solucionar desafios urgentes da sociedade e que usam a própria natureza a favor disso. Os problemas podem ser diversos, des- de o avanço do nível do mar até a escassez hídrica, por exemplo. Nós dependemos e sempre vamos depen- der do patrimônio natural; por isso, por meio das SBNs, garantimos também a proteção da economia e sociedade. O conceito ainda é novo no Brasil, o que dificulta a aplicação à realidade brasileira. Mas isso não quer dizer que já não existam bons exemplos de SBN por aqui. Alguns deles, inclusive, foram selecionados em uma chama- da de casos promovida pela Fundação Grupo Boticário, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e o GVces, e reconhecidos como alternativas viáveis em diversas cidades do Brasil. E, para o caso das chuvas e inun- dações, algumas das soluções são muito sim- ples. Vejamos um exemplo curitibano. O Parque Barigui, criado em 1972, foi construído com a intenção de conter as enchentes e preservar a mata nativa da bacia do Rio Barigui na região. Além dele, outros parques da cidade foram projetados com o mesmo intuito e são chamados de “parques lineares”, que integram a proteção da biodiversidade à criação de espa- ços de lazer e também à segurança da população. Essas áreas são essen- ciais para a infiltração da água das grandes tempestades e, em caso de transbordamento dos rios, não causa grandes prejuízos ao patrimônio públi- co e privado por serem áreas verdes sem a presença de casas, avenidas e outras construções. No entanto, é importante ressaltar que, quanto mais ocupada é uma área da cidade, maior é o desafio de incluir uma área verde no local. O exemplo do Barigui deu certo justa- mente por ter sido construído em uma área que não estava ocupada. Telhados verdes, cisternas para captação de água da chuva e recuperação de matas ciliares são outros exemplos de ações que podem ser implementadas em grandes cida- des para diminuir os riscos das enchentes e dos alagamentos. Está cada vez mais difícil conseguirmos reverter os impactos criados ao longo do tempo, mas ainda é possível juntarmos forças com a natureza para prevenirmos novos estragos. E a natureza é nossa maior aliada. país que promete igualdade de oportunidade para todosé cadavez maisdesigualemrazão daavassaladora ignorância intelectual de sua gente. Há uma mudança silenciosa que se prenuncia noseioda sociedade, e que se desenvolve em nome dos direitos individuaise da liberdade de expressão, dopoliticamente corretoe da autonomia daspessoas. Refiro-me à falta de respeito, ao descompromisso com o convívio social, à falta de educação das pes- soas, comabsoluto desprezo pelas regras. Este com- portamento ganha corpo e se avoluma no seio da sociedade brasileira, sem que ninguém saiba onde poderá desaguar. Ele começaingenuamente emcasa, compaisque não impõem sua autoridade sobre filhos e deixam de estabelecer limites. Quem ainda não assistiu a cenas lamentáveis de crianças de tenra idade con- frontando seus pais quando algo lhes é negado? É frequente ver crianças protagonizando espetáculos deploráveis por receber um simples não – e, pior, sem receber qualquer reprimenda. Essa perdadeautoridadevaidecasa para aescola. Professores de ensino fundamental e médio relatam histórias impressionantes de alunos desobedientes que não compreendem por que devem se submeter a regras banaisde salasde aula, como ficar sentado, nãoutilizar celular, prestar atenção, nãoconversar e respeitar o professor. Nas redes pública e privada, há professoresque simplesmente desistemdeminis- trar aulas, tamanha a desatenção e bagunça dos alu- nos,limitando-se apassar oconteúdono qua- droe tentandoexplicá-loparaospoucosque se interessam pela matéria. Já está estabe- lecido por regramentoformal queo aluno não pode ser admoestado com vigor e nem punido, o que dá aos bagunceiros carta branca para barbarizar. A velha e boa suspensão dos tempos antigos, ou a expulsão nos casos mais agudos, não existem mais. Aos poucos se extingue tambémareprovação,oquelogopermitirá que alunos saiam semialfabetizados, mes- modepoisdeváriosanosnaescola.NoPara- ná, os diretores de escolas públicas são esco- lhidos pela comunidade escolar, predominante- mente pelos alunos. E quem eles escolhem? Os mais tolerantes, amigos dos alunos. Apergunta é:qualofuturodessa geração?A res- posta éuma só,e jáestamosassistindoaos resultados dessa barbárie. Menos cidadãos felizes, bem resol- vidos e produtivos; em contraponto, infelicidade, mão de obra sem qualificação, salários menores e aumentoda criminalidade,alémda“morte” dalíngua portuguesa, compredomínioda linguagemcoloquial inculta e absoluta falta de conjugação dos verbos, ondea primeira, segundae terceira pessoasdoplural são substituídas pelo indefectível “a gente”, singu- larizando todos os verbos pronunciados posterior- mente. “E assim a gente vai levando. É nóis!” O país que promete igualdade de oportunidade para todos, conforme estabelecido na Constituição de 1988, é cada vezmais desigualem razãoda avassaladora ignorância intelectual de sua gente. Em vez de melhorar a educaçãopara todas aspessoas,estabelecemos cotas para afrodescendentesealunosdeescolaspúbli- cas, porqueestesnão têma condiçãoedu- cacional de quem veio de boas escolas privadas.Issonecessariamente puxapara baixoa qualidade do ensinosuperior, que porsuavezforma profissionaismenosqua- lificados, com reflexos em todas as áreas de atividade. Estamos vivenciando o obscurantismo no Brasil em pleno século 21. Enquanto isso, nos países mais organizados, menos permissivos, que premiam a meritocracia e não a mediocridade, vive- se o iluminismo.Formam-secidadãosmelhores, cien- tistas, estudiosos, que respeitam regras, pessoas que progridem e fazem crescer a economia e a nação. Este Brasil pede socorro, que só pode vir na for- ma de regras mais rígidas, no respeito à hierarquia, às instituições, aos mais velhos, às leis e regulamen- tos. Caso contrário, continuaremos a ser o Brasil da corrupção, do jeitinho, da tolerância, onde se espera que o governo venha salvar os pobres. O país dos incultos, ignorantes oudos intelectuais que cortejam os pobres e os ideais da esquerda, mas que passam suas férias no primeiro mundo, desfrutando da orga- nização, do respeito ao próximo e da segurança que eles oferecem. É hora de repensar o Brasil e de res- tabelecer a autoridade.

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