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ODIÁRIO DO AMAPÁ OQUINTA-FEIRA 123 DE JANEIRO DE 2020
Opinião
1
jornal ,,
DIARIO AMAPA
LUIZ MELO
ZIULANA MELO
ZIULANA MELO
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conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem
sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicaçCies são com o propósito de estimular o
debate dos problemas amapaenses e do país. O
Diário do Amapá
busca levantar e fomentar
debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as
diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.
e
THIAGO ASSUNÇÃO - MESTRE EM EDUCAÇÃO PARA APAZ PELA UNIVERSIDADE DE ROMA
Articulista
Venezuelanos, lei migratória ehospitalidade
D
esde que as condições de vida se dete–
rioraram na Venezuela, muitos vene–
zuelanos começaram a deixar o país.
Pela proximidade geográfica e cultural, o
Brasil tem sido o segundo maior destino de
fuga dos venezuelanos, atrás apenas dos
Estados Unidos. O governo federal tardou
a responder a esse súbito aumento da
demanda, considerando que a competência
sobre o controle das fronteiras e gestão da
política migratória é de âmbito federal.
Ocorre que o Brasil ainda não tem política
migratória. O que há é uma nova Lei de
Migração (Lei 13.445/2017) que, após longa
tramitação, criou um marco legal mais atual,
baseado na proteção dos direitos humanos
dos migrantes e, finalmente, livre do autori–
tarismo e burocracia da legislação anterior.
A lei foi regulamentada, no entanto, por um
decreto repleto de falhas, com dispositivos
que são inclusive contrários à própria lei que
visa regulamentar - como é o caso da prisão
por razões migratórias, vedada expressamente
pela lei.
A questão é que a maioria dos venezue–
lanos que entram no Brasil por Roraima bus–
ca trabalho imediato, justamente para encon–
trar uma forma de sustento. Mas, como eles
não podem trabalhar com visto de
turista, a saída encontrada foi soli–
citar refúgio, como os haitianos
fizeram anos atrás. Assim, essas
pessoas obtêm um protocolo pro–
visório, podendo expedir docu–
mentos e trabalhar legalmente no
país, enquanto aguardam a decisão
sobre o refúgio.
No entanto, dificilmente o Comi–
tê Nacional para Refugiados (Cona–
re) concederá refúgio para aqueles que
saíram da Venezuela sem serem perse–
guidos por algum dos motivos previstos em
lei, mesmo o Brasil tendo adotado a defini–
ção ampliada que permite a concessão de
refúgio devido a grave e generalizada vio–
lação dos direitos humanos. A solução
encontrada pelo governo foi conceder resi–
dência temporária de até dois anos para
esses migrantes, via resolução.
Para ter direito à residência, os venezue–
lanos devem apresentar pedido de desistência
da solicitação de refúgio. Porém, a solução
mais adequada, hoje, seria o visto ou resi–
dência para fins de acolhida humanitária,
previstos na nova lei migratória. No entanto,
o decreto que regulamenta a lei é lacônico
e
CARLOS ALBERTO DI FRANCO - JORNALISTA.
Articulista
Jornalismo, um balanço
M
ui
tos leitores, aturdidos com a extensão
do lodaçal que se vislumbra nos escân–
dalos reiteradamente denunciados pela
imprensa, cobram um balanço do desempenho
técnico e ético do jornalismo. Todos são capazes
de intuir que a informação tem sido a pedra de
toque do processo de moralização dos nossos
costumes políticos. Alguns consideram que a
imprensa estaria extrapolando o seu papel e
assumjndo funções reservadas à polícia e ao
Poder Judiciário. Outros, ao contrário, preocu–
pados com lamentáveis precedentes de impu–
nidade, gostariam de ver repórteres transfor–
mados em juízes ou travestidos em policiais.
Um balanço sereno, no entanto, indica um
saldo favorável ao empenho investigativo dos
meios de comunicação. O despertar da cons–
ciência da urgente necessidade de uma revisão
profunda da legislação brasileira, responsável
maior pelo clima de estelionato e banditismo
nos negócios públicos, representa um serviço
inestimável prestado pelo jornalismo deste país.
A imprensa não tem ficado no simples registro
dos delitos.De fato, vai às raízes dos problemas.
Daí as consistentes denúncias contra figurões
da política, o desnudamento dos esquemas de
corrupção, que, felizmente, já começa a se tra–
duzir em algumas condenações importantes.
A Polícia Federal, o Ministério Público e o
Judiciário estão escrevendo um belo capítulo
da nossa história. E os jornais cumpriram o seu
papel. Rasgaram a embalagem marqueteira e
mostraram o produto real. Lula, Dilma, Sérgio
Cabral, Eduardo Cunha e inúmeros polí–
ticos, despidos das lantejoulas dos
publicitários da mentira, deixaram uma ;.
imagem lamentável. Sem os jornais
não teríamos chegado ao divisor de
águas.
O mensalão, que Lula patetica–
mente insistiu em dizer que não exis–
tiu, explodiu no novo e gigantesco
assalto planejado pela máfia que
tomou conta do país: o petrolão.
Alguém imagina que o saldo extraordi–
nário da Operação Lava Jato teria sido pos–
sível sem uma imprensa independente? Os
envolvidos no maior escândalo de corrupção
da nossa história podem fazer cínicas decla–
rações de inocência, desmentidas por um con–
junto sólido de provas. Mas a verdade grita na
consciência da cidadania.
Sem jornais a democracia não funciona. O
jornalismo não é antinada. Mas também não é
neutro.
É
um espaço de contraponto. Seu com–
promisso não está vinculado aos ventos passa–
geiros da política e dos partidarismos. Sua agen–
da é, ou deveria ser, determinada por valores
perenes: liberdade, dignidade humana, respeito
às minorias, promoção da livre iniciativa, aber–
tura ao contraditório. O jornalismo sustenta a
democracia não com engajamentos espúrios,
mas com a força informativa da reportagem e
com o farol de uma opinião firme, mas equili–
brada e magnânima. A reportagem é, sem dúvi–
da, o coração da mídia.
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No
entanto, dificilmente o
Comitê
Nacional
para
Refugiados
(Couare}
concederá refúgio
para
aqueles que saíram
da
Venezuela
sem serem peiseguidos .
''
quanto a esta modalidade, dependendo
de ato conjunto dos ministérios da Jus–
tiça, Relações Exteriores e Trabalho.
Por fim, observa-se que o gover–
no federal adotou algumas medidas
para enfrentar a questão em Rorai–
ma, como apoio para assistência
humanitária, aumento do patrulha–
mento nas fronteiras e um projeto
de "interiorização", pelo qual os
venezuelanos seriam encaminhados
para outros estados. Se a ideia for "des–
pachar" as pessoas para outros lugares,
sem infraestrutura adequada para recebê-los
e apoio para integração ao mercado de traba–
lho, a medida tem tudo para repetir o fiasco
do caso dos haitianos enviados do Acre de
ônibus para o centro de São Paulo.
Além do visto de acolhida humanitária, a
solução passa por uma vigorosa coordenação
política entre autoridades municipais, estaduais
e federais, com participação da sociedade civil
e do setor privado, de modo a criar condições
para a recepção digna dessas pessoas, honran–
do a trajetória que foi se construindo juridica–
mente nos últimos anos, de hospitalidade para
com mjgrantes vítimas de conflitos armados,
desastres naturais e outras calamidades.
As redes sociais e o jornalismo cida–
dão têm contribuído de forma singular
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para o processo comunicativo e pro–
piciado novas formas de participa-
ção, de construção da esfera pública,
de mobilização do cidadão. Susci–
tam debates, geram polêmicas (algu–
mas com forte radicalização) e exer–
cem pressão. Mas as notícias que
realmente importam, isto é, que são
r
capazes de alterar os rumos de um
país, são fruto não de boatos ou meias-
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verdades disseminadas de forma irres–
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A
info1D1açáo tem
sido a
pedra
de
toque
do
processo
de
moralização dos nossos
costumes
políticos.
''
ponsável ou ingênua, mas resultam de um
trabalho investigativo feito dentro de rígidos
padrões de qualidade, algo que está na essência
dos bons jornais.
Grande é a nossa responsabilidade. A expo–
sição da chaga, embora desagradável, é sempre
um dever ético. Não se constrói um país num
pântano. Impõe-se o empenho de drenagem
moral. E só um jornalismo de buldogues, com–
prometido com a verdade, evitará que tudo aca–
be num esgar. Sabemos, todos, que há muito
espaço vazio nas prisões do colarinho-branco.
É
preciso avançar, e muito, no trabalho inves–
tigativo. Os meios de comunicação existem para
incomodar. Um jornalismo cor-de-rosa é social–
mente irrelevante.
O Brasil depende, e muito, da qualidade
técnica e ética da sua imprensa. A opinião
pública espera que a mídia continue cumprindo
a sua missão.