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ODIÁRIO DO AMAPÁ OQUARTA-FEIRA 122 DE JANEIRO DE 2020

Opinião

1

jornal ,,

DIARIO AMAPA

LUIZ MELO

ZIULANA MELO

Direror Superimendeme Dirernra de Jornalismo

ZIULANA MELO

Editora Chefe

MÁRLIOMELO

DirNor Administrativo

COMPROMISSO COM ANOTICIA

DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA.

C.N.P.J: 02.401.125/0001-59

Administração, Redação e Publicidade

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CEP 68900-101 Macapá (AP) Fone:99165-4286

www

.diariodoamapa.com.br

Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os

conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem

sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicaçCies são com o propósito de estimular o

debate dos problemas amapaenses e do país. O

Diário do Amapá

busca levantar e fomentar

debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as

diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.

e

ULISSES LAURINDO - JORNALISTA

Articulista

Descontinuidade, as amarras brasileiras

V

árias soluções são constantemente

lembradas sempre com a ideia de

devolver ao Brasil seus melhores

dias e ocupar sua importância no mundo.

Vale lembrar que de 1968 a 1973 o PIB

brasileiro saltou de 9,8% para 14%, época

do regime militar, período que ficou

conhecido como o Milagre Brasileiro e de

Anos de Chumbo. A continuidade política

prevaleceu tendo como base a gestão de

Juscelino Kubitschek, quando a economia

exibiu um crescimento econômico susten–

tável apoiado no Plano de Metas de JK,

cujo programa sugeria o crescimento de

50 na gestão em cinco anos. Procurar as

causas desse avanço identificava-se que a

razão maior se devia

à

continuidade admi–

nistrativa do governo JK.

O que se lamenta agora no país é a des–

continuidade dos programas estabelecidos

por administrações anteriores que não

seguem o cronograma anteriormente apro–

vado com raízes ligadas

à

vaidade na

manutenção de planos fora da sua autoria.

No governo de Lula, nos seus primeiros

anos, seguiam-se a política dei xada e

desenvolvida por Itamar Franco e Fernan–

do Henrique Cardoso, criadores do Plano

Real que tirou do país o espantalho da

inflação.

e

LUIZ FELIPE PONDÉ

Articulista

Nos primeiros anos de Lula o país

respirava confiança, a mesma da

linha do período militar que usava

o mote "Brasil, ame-o ou deixe–

o". Depois da ausência do dinhei–

ro da China e a ganância da per–

petuidade de poder retrata o que

está aí.

É

constante a falta de continui–

dade administrativa na política bra–

sileira, seja nas áreas municipal,

estadual e federal. Para tornar mais

clara a tese, ligo o exemplo do programa

criado no Rio de Janeiro para atender

à

educação com a construção de 502 esta–

belecimentos escolares, com o nome de

Centro Integrado de Educação Pública

(Ciep), obra conjunta do arquiteto Oscar

Niemeyer, do professo Darci Ribeiro e de

Leonel Brizola, quando duas vezes dirigiu

o estado.

Louvado pelo mundo inteiro como ini–

ciativa para quantificar a educação entre

as classes menos favorecidas acabou com

vida curtíssimas tão Jogo a administração

estadual passou para outras mãos que em

nada justificava o abandono do programa,

claramente, por não ser de autoria dos

novos governantes. Foi um pecado nacio–

nal lamentado pelo mundo inteiro porque

,!J'llJll~fl!!~ª

opção estrangeira era de que a pro–

~

gramação procurava amparar os

''

A

continuidade

política

prevaleceu tendo

como

base agestão

de

JK,

quando

a

economía exibiu

um crescimento econômico

sustentável.

''

mais pobres e a imensa população

jovem.

O mau exemplo deixado pelos

sonegadores do sonho dos mais

pobres estudarem em estabeleci–

mentos que lhes ofereciam tempo

integral nos colégios e escolas,

apoiado em assistência médica,

odontológica, psicológica e, sobre–

tudo, alimentar e aptidão física, deixou

de ser um ato desabonador para a cultura

das regiões, como também grave desserviço

à

altura, pois a clientela eram jovens da

infância

à

adolescência com ajuda que a

pobreza dificultava o acesso.

O sociólogo Darci Ribeiro alertou que

fechar as portas de programa igual ao

Ciep era correr o risco de, em pouco anos,

pelo desamparo da juventude, alimentar

o aparecimento de muitos trombadinhas,

vaticínio que hoje é realidade no Brasil.

O país enfrenta sério desequilíbrio na ati–

vidade da juventude, ficando clara que a

razão, a vertente, se apoia na visível vai–

dade dos homens públicos brasileiros,

preocupados apenas com seu ego pessoal,

deixando o rio correr com sua maré furio–

sa, porque pouco lhes afeta.

Oradar do futuro da democracia

N

ão acredito em evolução social. Sus–

peito que andamos em círculos, indo

pra lugar nenhum. Com isso não quero

negar que "ganhamos algum terreno" em rela–

ção a situações desagradáveis aqui e ali

(aumento de longevidade, eliminação em gran–

de escala da escravidão e coisas semelhantes)

nem que sejamos absolutamente dominados

pela contingência cega.

Conseguimos controlar várias dimensões

da vida. E são exatamente estas formas de con–

trole que apontam para o "futuro da democra–

cia". A condição humana é tal que combate–

mos constantemente a contingência e a nós

mesmos, em nossa infinita capacidade de criar

sofrimentos. Mas a democracia, evidentemen–

te, pode acabar um dia, inclusive pelas mãos

de gente que a "defende", principalmente por–

que o termo "democracia" pode significar coi–

sas opostas.

Quer ver um exemplo banal dessa "insta–

bilidade semântica" do termo "democracia"?

Tem partidos políticos por aí que pretendem,

em nome da democracia, intervir na mídia para

garantir igualdade de oportunidades, por exem–

plo, destruir pessoas e grupos na mídia para

colocar seus parceiros ideológicos no lugar

dessas pessoas e grupos. O argumento

é

"democratizar a mídia".

Por outro lado, deixar a mídia inteiramente

livre (portanto, democrática) pode significar,

por exemplo, a geração de discursos de ódio

e a exclusão social de quem não conseguiu

alcançar a posição de trabalho num desses

grandes grupos de mídia.

Independente dessa questão "esco–

lástica" (se não conhecer o termo, olhe

no Google), de onde está a verdadeira

democracia na mídia e em outros

níveis, acho que o futuro nos reserva

a sociedade mais controladora que

o mundo já viu e, portanto, num sen-

~·"'!•i.iilíã,iil

tido comum do termo, menos demo-

i:

crátka.

Dito de forma direta: marchamos

para um mundo totalitário, com con–

trole cada vez mais maior dos com–

portamentos, mesmo que pessoas trans

possam ser o que quiserem (dou esse

exemplo como mero clichê de "liberdade

individual") ou você possa ter o perfil que

quiser no Face ou odiar livremente quem você

quiser nas redes. O modelo de sociedade do

futuro está mais para o sistema de multas de

trânsito atual do que para o debate sobre "o

que é a verdadeira democracia". O que

é

este

sistema de multas de trânsito atual? Ele é o

paradigma do controle em nome do "bem cien–

tífico e social". Existem quatro instâncias nesse

sistema que fazem dele paradigmático da

sociedade de controle do futuro.

A primeira é a participação do mercado

faturando muita grana na venda de equipa–

mentos de controle dos comportamentos.

Empresas as mais variadas venderão equipa–

mentos e formarão pessoal treinado para ofe-

recer ao Estado e a sociedades esses "servi-

ços".

A segunda

é

a pesquisa e instalação cada

vez maior de "inteligência algorítmica" no

''

Omodelo de sociedade do

futuro

está

mais

para o

sistema de multas de

trânsito atual do

que para

o

debate sobre "o

que

é

a

verdadeira democracia

''

controle audiovisual e de localização

espacial das pessoas, seus veículos e

instrumentos cotidianos de uso. A

medida que a pesquisa nessa área

avançar, mais dinheiro se ganhará

com o avanço técnico e efetivo do

controle.

A terceira

é

o esquema gigantes–

co de arrecadação que isso signifi–

cará para o Estado, em parceria com

o mercado. Quando finalmente não

dirigirmos acima de 50 km por hora,

seremos obrigados a dirigir abaixo de

30 km por hora em toda parte. E assim até

a imobilidade total...

A quarta

é

o ganho civilizador: a diminuição

dos acidentes de trânsito. Não ache que esta é

a menos importante. Pelo contrário, esta ins–

tância

é

a essencial em todo o paradigma. Ela

é a razão "científica e social" da instalação cres–

cente e inevitável do controle: a melhoria da

qualidade do trânsito e, por tabela, da vida.

Esta contradição

é

inerente ao processo

modernizador. Modernidade implica controle

da contingência a serviço da melhoria da qua–

lidade dos materiais e códigos envolvidos na

vida em sociedade.

Controle de comportamentos, instituições,

bens, menor custo e maior benefício nas tran–

sações. Dane-se o que quer dizer "a verda–

deira democracia". Eu apostaria que este será

o nome de algum jogo idiota que pessoas com

cabelos azuis e indefinição sexual jogarão

nas redes.