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ODIÁRIO DO AMAPÁ OQUARTA-FEIRA 122 DE JANEIRO DE 2020
Opinião
1
jornal ,,
DIARIO AMAPA
LUIZ MELO
ZIULANA MELO
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conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem
sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicaçCies são com o propósito de estimular o
debate dos problemas amapaenses e do país. O
Diário do Amapá
busca levantar e fomentar
debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as
diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.
e
ULISSES LAURINDO - JORNALISTA
Articulista
Descontinuidade, as amarras brasileiras
V
árias soluções são constantemente
lembradas sempre com a ideia de
devolver ao Brasil seus melhores
dias e ocupar sua importância no mundo.
Vale lembrar que de 1968 a 1973 o PIB
brasileiro saltou de 9,8% para 14%, época
do regime militar, período que ficou
conhecido como o Milagre Brasileiro e de
Anos de Chumbo. A continuidade política
prevaleceu tendo como base a gestão de
Juscelino Kubitschek, quando a economia
exibiu um crescimento econômico susten–
tável apoiado no Plano de Metas de JK,
cujo programa sugeria o crescimento de
50 na gestão em cinco anos. Procurar as
causas desse avanço identificava-se que a
razão maior se devia
à
continuidade admi–
nistrativa do governo JK.
O que se lamenta agora no país é a des–
continuidade dos programas estabelecidos
por administrações anteriores que não
seguem o cronograma anteriormente apro–
vado com raízes ligadas
à
vaidade na
manutenção de planos fora da sua autoria.
No governo de Lula, nos seus primeiros
anos, seguiam-se a política dei xada e
desenvolvida por Itamar Franco e Fernan–
do Henrique Cardoso, criadores do Plano
Real que tirou do país o espantalho da
inflação.
e
LUIZ FELIPE PONDÉ
Articulista
Nos primeiros anos de Lula o país
respirava confiança, a mesma da
linha do período militar que usava
o mote "Brasil, ame-o ou deixe–
o". Depois da ausência do dinhei–
ro da China e a ganância da per–
petuidade de poder retrata o que
está aí.
É
constante a falta de continui–
dade administrativa na política bra–
sileira, seja nas áreas municipal,
estadual e federal. Para tornar mais
clara a tese, ligo o exemplo do programa
criado no Rio de Janeiro para atender
à
educação com a construção de 502 esta–
belecimentos escolares, com o nome de
Centro Integrado de Educação Pública
(Ciep), obra conjunta do arquiteto Oscar
Niemeyer, do professo Darci Ribeiro e de
Leonel Brizola, quando duas vezes dirigiu
o estado.
Louvado pelo mundo inteiro como ini–
ciativa para quantificar a educação entre
as classes menos favorecidas acabou com
vida curtíssimas tão Jogo a administração
estadual passou para outras mãos que em
nada justificava o abandono do programa,
claramente, por não ser de autoria dos
novos governantes. Foi um pecado nacio–
nal lamentado pelo mundo inteiro porque
,!J'llJll~fl!!~ª
opção estrangeira era de que a pro–
~
gramação procurava amparar os
''
A
continuidade
política
prevaleceu tendo
como
base agestão
de
JK,
quando
a
economía exibiu
um crescimento econômico
sustentável.
''
mais pobres e a imensa população
jovem.
O mau exemplo deixado pelos
sonegadores do sonho dos mais
pobres estudarem em estabeleci–
mentos que lhes ofereciam tempo
integral nos colégios e escolas,
apoiado em assistência médica,
odontológica, psicológica e, sobre–
tudo, alimentar e aptidão física, deixou
de ser um ato desabonador para a cultura
das regiões, como também grave desserviço
à
altura, pois a clientela eram jovens da
infância
à
adolescência com ajuda que a
pobreza dificultava o acesso.
O sociólogo Darci Ribeiro alertou que
fechar as portas de programa igual ao
Ciep era correr o risco de, em pouco anos,
pelo desamparo da juventude, alimentar
o aparecimento de muitos trombadinhas,
vaticínio que hoje é realidade no Brasil.
O país enfrenta sério desequilíbrio na ati–
vidade da juventude, ficando clara que a
razão, a vertente, se apoia na visível vai–
dade dos homens públicos brasileiros,
preocupados apenas com seu ego pessoal,
deixando o rio correr com sua maré furio–
sa, porque pouco lhes afeta.
Oradar do futuro da democracia
N
ão acredito em evolução social. Sus–
peito que andamos em círculos, indo
pra lugar nenhum. Com isso não quero
negar que "ganhamos algum terreno" em rela–
ção a situações desagradáveis aqui e ali
(aumento de longevidade, eliminação em gran–
de escala da escravidão e coisas semelhantes)
nem que sejamos absolutamente dominados
pela contingência cega.
Conseguimos controlar várias dimensões
da vida. E são exatamente estas formas de con–
trole que apontam para o "futuro da democra–
cia". A condição humana é tal que combate–
mos constantemente a contingência e a nós
mesmos, em nossa infinita capacidade de criar
sofrimentos. Mas a democracia, evidentemen–
te, pode acabar um dia, inclusive pelas mãos
de gente que a "defende", principalmente por–
que o termo "democracia" pode significar coi–
sas opostas.
Quer ver um exemplo banal dessa "insta–
bilidade semântica" do termo "democracia"?
Tem partidos políticos por aí que pretendem,
em nome da democracia, intervir na mídia para
garantir igualdade de oportunidades, por exem–
plo, destruir pessoas e grupos na mídia para
colocar seus parceiros ideológicos no lugar
dessas pessoas e grupos. O argumento
é
"democratizar a mídia".
Por outro lado, deixar a mídia inteiramente
livre (portanto, democrática) pode significar,
por exemplo, a geração de discursos de ódio
e a exclusão social de quem não conseguiu
alcançar a posição de trabalho num desses
grandes grupos de mídia.
Independente dessa questão "esco–
lástica" (se não conhecer o termo, olhe
no Google), de onde está a verdadeira
democracia na mídia e em outros
níveis, acho que o futuro nos reserva
a sociedade mais controladora que
o mundo já viu e, portanto, num sen-
~·"'!•i.iilíã,iil
tido comum do termo, menos demo-
i:
crátka.
Dito de forma direta: marchamos
para um mundo totalitário, com con–
trole cada vez mais maior dos com–
portamentos, mesmo que pessoas trans
possam ser o que quiserem (dou esse
exemplo como mero clichê de "liberdade
individual") ou você possa ter o perfil que
quiser no Face ou odiar livremente quem você
quiser nas redes. O modelo de sociedade do
futuro está mais para o sistema de multas de
trânsito atual do que para o debate sobre "o
que é a verdadeira democracia". O que
é
este
sistema de multas de trânsito atual? Ele é o
paradigma do controle em nome do "bem cien–
tífico e social". Existem quatro instâncias nesse
sistema que fazem dele paradigmático da
sociedade de controle do futuro.
A primeira é a participação do mercado
faturando muita grana na venda de equipa–
mentos de controle dos comportamentos.
Empresas as mais variadas venderão equipa–
mentos e formarão pessoal treinado para ofe-
recer ao Estado e a sociedades esses "servi-
ços".
A segunda
é
a pesquisa e instalação cada
vez maior de "inteligência algorítmica" no
''
Omodelo de sociedade do
futuro
está
mais
para o
sistema de multas de
trânsito atual do
que para
o
debate sobre "o
que
é
a
verdadeira democracia
''
controle audiovisual e de localização
espacial das pessoas, seus veículos e
instrumentos cotidianos de uso. A
medida que a pesquisa nessa área
avançar, mais dinheiro se ganhará
com o avanço técnico e efetivo do
controle.
A terceira
é
o esquema gigantes–
co de arrecadação que isso signifi–
cará para o Estado, em parceria com
o mercado. Quando finalmente não
dirigirmos acima de 50 km por hora,
seremos obrigados a dirigir abaixo de
30 km por hora em toda parte. E assim até
a imobilidade total...
A quarta
é
o ganho civilizador: a diminuição
dos acidentes de trânsito. Não ache que esta é
a menos importante. Pelo contrário, esta ins–
tância
é
a essencial em todo o paradigma. Ela
é a razão "científica e social" da instalação cres–
cente e inevitável do controle: a melhoria da
qualidade do trânsito e, por tabela, da vida.
Esta contradição
é
inerente ao processo
modernizador. Modernidade implica controle
da contingência a serviço da melhoria da qua–
lidade dos materiais e códigos envolvidos na
vida em sociedade.
Controle de comportamentos, instituições,
bens, menor custo e maior benefício nas tran–
sações. Dane-se o que quer dizer "a verda–
deira democracia". Eu apostaria que este será
o nome de algum jogo idiota que pessoas com
cabelos azuis e indefinição sexual jogarão
nas redes.