LUIZ MELO
Diretor Superintendente
ZIULANA MELO
Diretora de Jornalismo
Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os
conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem
sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o
debate dos problemas amapaenses e do país. O
Diário do Amapá
busca levantar e fomentar
debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as
diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.
ZIULANA MELO
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m jovem estudante recém-formado,
desejava receber o conselho de um
sábio eremita para escolhera faculdade
universitária à qual queria escrever-se. Apre-
sentou a sua dúvida ao homem de Deuscom
estas palavras: - Eu gostaria ser oculista, mas
os meusparentesqueremque euseja dentista,
porque dizem que se ganha mais. O que o
senhor acha? –Meu fil ho –respondeuo sábio
– ambassão profissões altamente remunera-
das, maslembra, osolhos são só dois, ao pas-
so que os dentes são trinta e dois!
Mais uma brincadeira dos antigossábios,
homens de fé, sempre capazes de espalhar o
sorriso ao seu redor. Contudo, aqui aparece
uma questão, hoje, talvez mais que no pas-
sado, que, muitasvezes norteia a decisão dos
jovens na busca do seu próprio caminho na
vida: a remuneração ou compensação que
seja. Vale a pena estuda r tanto para ganhar
tão pouco? Quais as profissões – honestas –
que dãomaislucro? Como emmuitas outras
situações parece que o desejo de “ganhar”
esteja se tornando se não a maior, ao menos,
uma das razões mais motivadoras das esco-
lhas juvenis ou, também, daquelas pessoas
que ainda buscam o seu papel na vida e na
sociedade. Por isso as palavras de Jesus aos
pescadores do mar da Galileia, que encon-
tramosno evangelhodeMateusdeste domin-
go: - Segui-me, e eu farei de vós pescadores
de homens. - (Mt 4,19) não deixam de soar
como muito diferentes, desafiadoras e, para
tantos, talvez novas. Com certeza também é
fácil entendê-las endereçadas aos
outros, nunca a cada um de nós. Será?
Sem dúvida a página de Mateus
apresenta o chamado dosprimeiros
discípulos. Mais tarde, Jesus esco-
lherá “os doze”, um grupo menor
entre o número maior de homens
e mulheres que o seguiam. Ainda
hoje entendemos que existe um
chamado, uma vocação especial,
para seguir Jesus assumindo, neste
caso, asfunçõesdoministério
ordenado como pastores das Comuni-
dades dentro da nossa Igreja Católica.
Sempre rezamos e rezaremos para que não
faltem “operários” para a messe do Senhor,
ou seja, padres para servir ao Povo de Deus.
No entanto, cada vez mais hoje entendemos
que os convites de Jesustêm reflexose valor,
digamos, para todose todas. Algo semelhante
acontece, por exemplo, com a paternidade e
a maternidade. Tantos homens e mulheres
são pais e mães – e não só espiritualmente –
porque amam e server irmãos e irmãs que
precisam deles de umamaneira tão amorosa
e familiar que, quase, disputam o afeto com
os paise as mães biológicos. Assim também
na Igreja, hoje falamos muito de missão, de
sermos, nós todos batizados “missionários”,
enviados a dar o testemunho da alegria do
Evangelho com a nossa vida lá onde as cir-
cunstânci as nos c olocaram. Ser “pescadores
de homens” ou, digamos, “missionários”,
não significa “arrebanhar” pessoas para o
nosso grupo, movimento, comunidade
ou mesmo Igreja. Ser missionários é,
a meu ver, muito mais a capacidade
de “lançar as redes para águas mais
profundas” para alcançar quantos
ainda não ouviram falar de Jesus
ou ouviram falar dele tão mal e de
maneira tão distorcida que ele foi
rejeitado mesmo antes de conhecê-
lo de verdade.
Estou convencido que a recusa da
Boa Nova de Jesus, a rejeição da sua
pessoa e da sua mensagem, não depen-
dem da inutilidade ou banalidade da pro-
posta dele, mas, decididamente, da maneira
como ela lhes foi apresentada, através do tes-
temunho daqueles e daquelas que declaram
acreditar nele. Com certeza a culpa não é do
Evangelho em si, porque , ainda hoje, ele
motiva e anima a doação da própria vida de
milhares de homens emulheres por causa do
Reino de Deus. A culpa das redes estar
vazias, é nossa. Ficamos calculando as perdas
e os ganhos. Estamos preocupados com a opi-
nião dos colegas, de sermos apontados como
beatos ou beatas, servidores de um lendário
rei de outros tempos. Ao contrário, não temos
receio de dizer que queremos ganhar a qual-
quer custo, que nos atraem as profissões mais
lucrativas, melhor ainda se com bastante dias
de folgas emuitos privilégios. A questão não
é ser “oculistasou dentistas”, masquerer amar
e servir mais, lavando os pés a quem precisa.
Sem cálculos.
stamos imersos totalmente em uma
cultura digital e aquilo que se des-
taca pode ser classificado de ‘nar-
cisismo’. Por que isso? Constata-se como
o individualismo está imperando no nosso
meio. Diria um individualismo até exas-
perado e que se presencia em todos os
níveis. Por exemplo, até na fotografia se
realiza a famosa ‘selfie’, que permite
fazer tudo sozinho, dando a total liberdade
de autorreferência e autoexecução. Não
só, a tendência da juventude é ter uma
forte característica narcisista. Esta, pode-
ríamos dizer, é uma epidemia que,com o
tempo,cresce mais e mais.
Nota-se como o ‘eu’ está pronunciado
e escrito intensamente e constantemente.
Na vida cotidiana, na televisão, nos jor-
nais, nas redes sociais, o ‘eu’ domina
tudo. Pode observar como até na políticao
protagonista é o ‘eu’. É uma realidade,
podemos dizer assim, escravizada pelo
espelho.Além do mais, estamos nos limi-
tes de um ‘narcisismo exacerbado’. As
redes sociais estão cheias de informações,
às vezes, bem banais, cheias de fotogra-
fias e de proclamas. Torna-se público até
as sequencias bem pessoais e de
vida familiar.
E, depois, mais interessante é
ainda quando aparecem muitos
‘like’ e ‘follower’, em que mos-
tram o grau de satisfação dos
interessados. Então, é legítimo
se perguntar:o que poderá acon-
tecer quando o mecanismo auto-
promocional de personagens
importantes, tipo Messi ou outro,
queviraliza, torna-se referência de
imitação, também para um jovem de
Belém ou de outra cidade da Amazônia?
Já teve a respeito pessoas que tentaram
dar uma resposta a tudo isso. Creio que
se pode dizer que o ‘narcisismo’ é o enco-
lhimento em si da própria energia vital,
isto é, permitir de se enriquecer através
do intercâmbio de experiências e, ao mes-
mo tempo, se colocar em jogo, perdendo
em parte algumas certezas. E também o
narcisista achando de ser poderoso, pode
chegar a negar o limite da morte. Ele é o
poderoso! Essa nova cultura digital-tec-
nológica convida a se restringir sob o
aspecto afetivo e, ao mesmo tempo, evitar
ter brigas com os outros.
Assim sendo, parece que se pro-
jeta a substituir as relações huma-
nas com o investimento dos obje-
tos, porque eles não comprome-
tem a própria personalidade.
Desse jeito, a capacidade das
pessoas que se sentem totalmen-
te satisfeitas das suas realizações
acabase enfraquecendo ou até se
tornam ausentes.Sob o aspecto
educativo, por exemplo, quando os
pais procuram dar tudo para os pró-
prios filhos, desta forma, evita-se cada
conflito, e assim compromete-se o cresci-
mento psíquico. De fato, tirar dos próprios
filhos das provas de responsabilidades e
de compromissos contribui a criar gerações
auto-gratificadas e autorreferidas.
Comtudo isso, o narcisismo se torna
o protagonista na nova realidade cultural
em que os relacionamentos se relativi-
zam, fragilizando toda verdade e objeti-
vidade. A essa altura, torna-se muito difí-
cil praticarmos os valores comunitários
e, sobretudo, praticarmos o ensino e tes-
temunho de Jesus.