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LUIZ MELO

Diretor Superintendente

ZIULANA MELO

Diretora de Jornalismo

Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os

conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem

sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o

debate dos problemas amapaenses e do país. O

Diário do Amapá

busca levantar e fomentar

debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as

diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.

ZIULANA MELO

Editora Chefe

MÁRLIO MELO

Diretor Administrativo

DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA.

C.N.P.J: 02.401.125/0001-59

Administração, Redação e Publicidade

Avenida

Coriolano Jucá, 456 - Centro

CEP 68900-101 Macapá (AP)

www.diariodoamapa.com.br

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m jovem estudante recém-formado,

desejava receber o conselho de um

sábio eremita para escolhera faculdade

universitária à qual queria escrever-se. Apre-

sentou a sua dúvida ao homem de Deuscom

estas palavras: - Eu gostaria ser oculista, mas

os meusparentesqueremque euseja dentista,

porque dizem que se ganha mais. O que o

senhor acha? –Meu fil ho –respondeuo sábio

– ambassão profissões altamente remunera-

das, maslembra, osolhos são só dois, ao pas-

so que os dentes são trinta e dois!

Mais uma brincadeira dos antigossábios,

homens de fé, sempre capazes de espalhar o

sorriso ao seu redor. Contudo, aqui aparece

uma questão, hoje, talvez mais que no pas-

sado, que, muitasvezes norteia a decisão dos

jovens na busca do seu próprio caminho na

vida: a remuneração ou compensação que

seja. Vale a pena estuda r tanto para ganhar

tão pouco? Quais as profissões – honestas –

que dãomaislucro? Como emmuitas outras

situações parece que o desejo de “ganhar”

esteja se tornando se não a maior, ao menos,

uma das razões mais motivadoras das esco-

lhas juvenis ou, também, daquelas pessoas

que ainda buscam o seu papel na vida e na

sociedade. Por isso as palavras de Jesus aos

pescadores do mar da Galileia, que encon-

tramosno evangelhodeMateusdeste domin-

go: - Segui-me, e eu farei de vós pescadores

de homens. - (Mt 4,19) não deixam de soar

como muito diferentes, desafiadoras e, para

tantos, talvez novas. Com certeza também é

fácil entendê-las endereçadas aos

outros, nunca a cada um de nós. Será?

Sem dúvida a página de Mateus

apresenta o chamado dosprimeiros

discípulos. Mais tarde, Jesus esco-

lherá “os doze”, um grupo menor

entre o número maior de homens

e mulheres que o seguiam. Ainda

hoje entendemos que existe um

chamado, uma vocação especial,

para seguir Jesus assumindo, neste

caso, asfunçõesdoministério

ordenado como pastores das Comuni-

dades dentro da nossa Igreja Católica.

Sempre rezamos e rezaremos para que não

faltem “operários” para a messe do Senhor,

ou seja, padres para servir ao Povo de Deus.

No entanto, cada vez mais hoje entendemos

que os convites de Jesustêm reflexose valor,

digamos, para todose todas. Algo semelhante

acontece, por exemplo, com a paternidade e

a maternidade. Tantos homens e mulheres

são pais e mães – e não só espiritualmente –

porque amam e server irmãos e irmãs que

precisam deles de umamaneira tão amorosa

e familiar que, quase, disputam o afeto com

os paise as mães biológicos. Assim também

na Igreja, hoje falamos muito de missão, de

sermos, nós todos batizados “missionários”,

enviados a dar o testemunho da alegria do

Evangelho com a nossa vida lá onde as cir-

cunstânci as nos c olocaram. Ser “pescadores

de homens” ou, digamos, “missionários”,

não significa “arrebanhar” pessoas para o

nosso grupo, movimento, comunidade

ou mesmo Igreja. Ser missionários é,

a meu ver, muito mais a capacidade

de “lançar as redes para águas mais

profundas” para alcançar quantos

ainda não ouviram falar de Jesus

ou ouviram falar dele tão mal e de

maneira tão distorcida que ele foi

rejeitado mesmo antes de conhecê-

lo de verdade.

Estou convencido que a recusa da

Boa Nova de Jesus, a rejeição da sua

pessoa e da sua mensagem, não depen-

dem da inutilidade ou banalidade da pro-

posta dele, mas, decididamente, da maneira

como ela lhes foi apresentada, através do tes-

temunho daqueles e daquelas que declaram

acreditar nele. Com certeza a culpa não é do

Evangelho em si, porque , ainda hoje, ele

motiva e anima a doação da própria vida de

milhares de homens emulheres por causa do

Reino de Deus. A culpa das redes estar

vazias, é nossa. Ficamos calculando as perdas

e os ganhos. Estamos preocupados com a opi-

nião dos colegas, de sermos apontados como

beatos ou beatas, servidores de um lendário

rei de outros tempos. Ao contrário, não temos

receio de dizer que queremos ganhar a qual-

quer custo, que nos atraem as profissões mais

lucrativas, melhor ainda se com bastante dias

de folgas emuitos privilégios. A questão não

é ser “oculistasou dentistas”, masquerer amar

e servir mais, lavando os pés a quem precisa.

Sem cálculos.

stamos imersos totalmente em uma

cultura digital e aquilo que se des-

taca pode ser classificado de ‘nar-

cisismo’. Por que isso? Constata-se como

o individualismo está imperando no nosso

meio. Diria um individualismo até exas-

perado e que se presencia em todos os

níveis. Por exemplo, até na fotografia se

realiza a famosa ‘selfie’, que permite

fazer tudo sozinho, dando a total liberdade

de autorreferência e autoexecução. Não

só, a tendência da juventude é ter uma

forte característica narcisista. Esta, pode-

ríamos dizer, é uma epidemia que,com o

tempo,cresce mais e mais.

Nota-se como o ‘eu’ está pronunciado

e escrito intensamente e constantemente.

Na vida cotidiana, na televisão, nos jor-

nais, nas redes sociais, o ‘eu’ domina

tudo. Pode observar como até na políticao

protagonista é o ‘eu’. É uma realidade,

podemos dizer assim, escravizada pelo

espelho.Além do mais, estamos nos limi-

tes de um ‘narcisismo exacerbado’. As

redes sociais estão cheias de informações,

às vezes, bem banais, cheias de fotogra-

fias e de proclamas. Torna-se público até

as sequencias bem pessoais e de

vida familiar.

E, depois, mais interessante é

ainda quando aparecem muitos

‘like’ e ‘follower’, em que mos-

tram o grau de satisfação dos

interessados. Então, é legítimo

se perguntar:o que poderá acon-

tecer quando o mecanismo auto-

promocional de personagens

importantes, tipo Messi ou outro,

queviraliza, torna-se referência de

imitação, também para um jovem de

Belém ou de outra cidade da Amazônia?

Já teve a respeito pessoas que tentaram

dar uma resposta a tudo isso. Creio que

se pode dizer que o ‘narcisismo’ é o enco-

lhimento em si da própria energia vital,

isto é, permitir de se enriquecer através

do intercâmbio de experiências e, ao mes-

mo tempo, se colocar em jogo, perdendo

em parte algumas certezas. E também o

narcisista achando de ser poderoso, pode

chegar a negar o limite da morte. Ele é o

poderoso! Essa nova cultura digital-tec-

nológica convida a se restringir sob o

aspecto afetivo e, ao mesmo tempo, evitar

ter brigas com os outros.

Assim sendo, parece que se pro-

jeta a substituir as relações huma-

nas com o investimento dos obje-

tos, porque eles não comprome-

tem a própria personalidade.

Desse jeito, a capacidade das

pessoas que se sentem totalmen-

te satisfeitas das suas realizações

acabase enfraquecendo ou até se

tornam ausentes.Sob o aspecto

educativo, por exemplo, quando os

pais procuram dar tudo para os pró-

prios filhos, desta forma, evita-se cada

conflito, e assim compromete-se o cresci-

mento psíquico. De fato, tirar dos próprios

filhos das provas de responsabilidades e

de compromissos contribui a criar gerações

auto-gratificadas e autorreferidas.

Comtudo isso, o narcisismo se torna

o protagonista na nova realidade cultural

em que os relacionamentos se relativi-

zam, fragilizando toda verdade e objeti-

vidade. A essa altura, torna-se muito difí-

cil praticarmos os valores comunitários

e, sobretudo, praticarmos o ensino e tes-

temunho de Jesus.