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Opinião 1

jornal

,

,

O DIÁRIO DO AMAPÁ O TERÇA-FEIRA 1 28 DE JANEIRO DE 2020

DIARIO AMAPA

LUIZMELO

ZIULANAMELO

ZIULANAMELO

Editora Chefe

MÁRLIOMELO

Diretor Administrativo

Diretor Superintendente Diretorade Jornalismo

COMPROMISSO COMA NOTÍCIA

DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA.

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Administração, Redação e Publicidade

Avenida

Coriolano Jucá, 456 - Centro

CEP 68900-101 Macapá (AP) Fone

99165-4286

www.diariodoamapa.com.br

Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os

conceitos emjlidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem

sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o

debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar

debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as

diversas tendências do pensamento das sociedades naciona1 e intemaciona1.

e

RUTH WHIPPMAN

Articulista

A felicidade são os outros 'is'

E

m um momento particularmentedifícil, alguns anos atrás, depois de chegar, sem amigos e solitária, do Reino

Unido para viver nos EUA, decidi baixar

um "aplicativo de felicidade" no meu celular-mas, por incrível que pareça, foi difícil

escolher um. Havia quase mil opções prometendo satisfação eterna na loja virtual:

os que ensinam a meditar ou a ser grato,

os que enviam montagens de fotos de por

do sol e cachorrinhos ou de poses para lá

de lisonjeiras do parceiro (dando-lhe um

momento para ignorar temporariamente o

fato de seu parceiro de verdade ser bem

menos atraente).

O que eu acabei escolhendo me mandava uma mensagem, mais ou menos de

horaem hora, comuma afirmação positiva

que eu supostamente deveria repetir para

mim mesma, inúmeras vezes, como "Eu

sou bonita", ou "Eu me basto". O problema

era que, toda vez que meu telefone tocava

me alertando da chegada da mensagem, eu

dava um pulo pavloviano de animação,

pensando que uma pessoadeverdade estava tentando entrar em contato comigo. "Eu

me basto", rosnava, amarga, ao perceber

a verdade, incapaz de me livrar do sentimento de que, sem amigos, nem comunidade, eu não me bastava.

"A felicidade vem de dentro", diria a

foto de cartão postal inspiradora no meu

perfil do Facebook, alguns dias depois, a

fonte branca de meme destacada contra a

imagemde uma mulher contorcidaem uma

posição de ioga tão tortuosa que parecia

e

GUSTAVO CERBASI

Articulista

que estava investigando seu íntimo

- literalmente -, na tentativa de

encontrar a alegria dentro de si.

Depois de ter passado os últimos anos fazendo pesquisa e

escrevendo um livro sobre felicidade e ansiedade nos EUA,

notei que esse tipo específico de

conselho- que coloca a busca

pela satisfação como uma missão

interna, pessoal, totalmente isolada

das outras pessoas- vem se tornando cada vez mais comum. Algumas

variações incluem: "A felicidade é

determinada não pelo que acontece à sua

volta, mas dentro de você", "A felicidade

não deve depender dos outros" e "A felicidade é um trabalho interno", otimista e

popular nas redes sociais. Um e-mail que

recebi de uma mala direta de autoajuda

reforçou ainda mais a ideia com a criação

da palavra para lá de exagerada "na direção

interior" (quando bati o olho no título na

caixa de entrada, por um momento achei

que fosse anúncio de um restaurante que

trabalhasse só com miúdos).

Em uma cultura individualista movida

pela autoatualização, a ideia de que a felicidade deve ser trabalhada de dentro para

fora, e não ao contrário, aos poucos vai

adquirindo o status declichê. É a felicidade

descrita como jornada de autodescoberta,

e não consequência natural do engajamento

com o mundo; uma felicidade que enfatiza

a independência emocional em vez da

interdependência, que se baseia na ideia

Viver commenos

N

a nova realidade brasileira, com

menos empregos, mais pobreza e

perspectiva tímida de geração de

riqueza, a regra básica das familias foi cortar gastos. Tarefa difícil, quando muito já

se cortou nos meses anteriores.

A orientação é reduzir o custo de vida,

diferente de economizar. Economizar

remete à ideia de diminuir desperdícios,

cortar pequenos luxos e rever gastos corriqueiros. Já na redução do custo de vida,

recomenda-se rever os padrões de moradia,

transporte e vestuário, assim como o grau

de sofisticação de nossas escolhas.

Deve-se avaliar mudar de bairro ou de

cidade, ou trocar o carro pelo transporte

público. No início, isso pode se traduzir

em sofrimento. Porém, quando mudanças

dessa natureza decorrem de escolhas cuidadosas, a transformação financeira pode

ser libertadora.

Ao reconhecer que excedemos em escolhas passadas, temos a oportunidade de

questionar nosso consumismo e adotar um

estilo de vida mais enxuto e eficiente.

Isso envolve vender eletrônicos

pouco usados, decorar a casa com

menos modismos e mais simplicidade, adotar um guarda-roupas

mais criativo que lotado.

A esse estilo de vida economicamente mais enxuto e eficiente,

no qual compramos apenas o que

precisamos, sem cometer excessos

impulsivos, chamamos minimalista.

Talvez você já tenha ouvido falar disso

nos últimos anos e o tenha associado a

uma ideia de cultura hippie ou de desapego

excessivo. Porém, oconceitoatual deminimalismo se associa muito mais a escolhas

sustentáveis do que a deixar de escolher.

Uma família com postura minimalista

talvez tenha uma decoração do lar mais

rústica e básica. Talvez dependa dos vizinhos e se disponha a compartilhar eletrodomésticos que uma família só use raramente, como batedeira ou microprocessador. Talvez tenha de organizar melhor o

dia para confiar no transporte público, nos

''

Se quisermos ser felizes,

devemos ter como

objetivo passar menos

tempo sozinhos.

''

de que a satisfação significativa só

pode ser encontrada através da

exploração total da individualidade, com um mergulho profundo

na porção mais íntima de nossa

alma e nas complexidades e gatilhos de nossa própria personalidade. Primeiro passo: descubrase. Segundo passo: seja você

mesmo.

A filosofia isolacionista não

está se revelando apenas na forma

com que muitos norte-americanos

falamsobre a felicidade, mas na maneira como passam seu tempo. O pessoal que

estuda essas coisas notou um aumento significativonas "buscas pela felicidade" solitárias, ou seja, atividades realizadas namais

completa solidão ou por um grupo sem interação, com o objetivo explícito de manter

o sujeito preso na experiência emocional

particular.

A prática espiritual ereligiosa está lentamente mudando de iniciativa comunitária

para individual, com retiros de meditação

silenciosa, aplicativos de atenção plena e

aulas de ioga substituindo atividades sociais

paroquiais e a adoração coletiva. A indústria

da autoajuda- com seu princípio básico de

que a busca pela felicidade deve ser uma

empreitadaindividual,voltadapara dentroestá bombando, com os norte-americanos

gastando mais de US$ 1 bilhão por ano em

livros que os ajudem no direcionamento de

suas buscas internas. Enquanto isso, o "autocuidado" se tornou a nova saída do armário.

aplicativos e em caronas. Talvez tenha

uma horta em casa, que oferecerá

produtos frescos para usar nas

refeições e também uma chance

de todos na família aprenderem

a cultivar vegetais.

Essamesmaposturapermite à

_.....,__-:..;

..,.

._""-:í...,

famíliadestinar mais dinheiro para

educação e experiências comoviagens, lazer e atividades culturais.

A esse estilo de vida

economicamente mais

enxuto

e

eficiente,

no

qual

compramos

apenas o

que

precisamos,

sem

cometer excessos

impulsivos,

chamamos

minimalista.

''

O minimalismo está longe de ser

uma cultura espartana de empobrecimento das escolhas. Pelo contrário, permite experimentar mais o mundo, aumenta

o convívio com amigos e vizinhos, permite

adotar um consumo de maior qualidade.

Quemcompramenos dá preferência à qualidade e à durabilidade. Minimalistas não

compramprodutospiratas, porque quem dá

dinheiro à pirataria descartamais e compra

mais vezes, resultando em maior gasto.

Em um cenário de escassez de renda e

de recursos, o que parece ser o remédio é,

na verdade, uma vacina para a sociedade

inteira. Vale pensar mais a respeito.