

LUIZ MELO
Diretor Superintendente
ZIULANA MELO
Diretora de Jornalismo
Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os
conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem
sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o
debate dos problemas amapaenses e do país. O
Diário do Amapá
busca levantar e fomentar
debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as
diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.
ZIULANA MELO
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erto dia um homem soube que Jesus esta-
va para visitar a sua casa. – Virá mesmo
ter comigo? Na minha casa? – pensou. E
ficou preocupado. Correu para cá e para lá nos
quartos, na cozinha,noquintal. Subiu até o telha-
do para conferir. Reparou as coisas com outros
olhos. Tudo estava sujo, desarrumado, feio,cheio
de bugigangas inúteis. – Falta até o ar – disse.
Mas não desanimou. Abriu portas e janelas e
começou a maior faxina da sua vida. No meioda
nuvem de poeira,que logo se levantou, apareceu
uma pessoa para ajudá-lo. Era tanto trabalho que
não tiveram nem tempo para conversar, mas em
dois tudo era mais fácil.Jogaramfora muitascoi-
sasvelhas, amontoaram e queimaram uma mon-
tanha de lixo. Esfregaram os pisos, limparam os
vidros das janelas, descobriram ninhos de bara-
tase esconderijode ratos. Ohomemdizia: - Nun-
ca vamos acabar &ndas h;. O outro respondia: -
Falta pouco!– Trabalharam semparar o dia intei-
ro. Aos poucos,finalmente, a casa brilhava; pare-
cia nova. Já estava anoitecendo quando os dois,
exaustos, foram para a cozinha e arrumaram a
mesa. – Agora Jesus pode vir – disse o homem
suspirando - - Eu já estou aqui - respondeu o
outro – Senta-te à mesa e janta comigo! -.
Apáginados discípulosde Emaús, queencon-
tramos neste terceiro Domingo de Páscoa é bem
conhecida. Para o evangelista Lucas ainda é o
“primeiro dia da semana” – o dia da Ressurrei-
ção - um dia tão longo que nunca parece acabar.
Chega a noite,masainda tem tempo para
voltar a Jerusalém, encontrar os Onze
reunidos e contar o que tinha aconteci-
do. Tem a arte do narrador naquelas
palavras cheias de tristeza e alegria,
desânimo e ardor, cansaço e energia,
mistério e revelação. Um resumo da
experiência docaminhoa ser feito por
todo discípulo. Por nós também, se
queremos sair da tentação da desistên-
cia e das nossas obstinadas e inúteis
explicações. Não tenho dúvida que a
maior dificuldade para entender a alegre n
otícia do Evangelho esteja em nossas
“ideias”, na nossa pretensão de explicar tudo,
de encaixar Deus e o seu agir em nossos racio-
cínios limitados e, na maioria das vezes, pre-
conceituosos. É o famoso: “Nós esperávamos”
dosdoisdiscípulosde Emaús.Em resposta Jesus
lhesdiz que eram “sem inteligência e lentospara
crer em tudo o que os profetas falaram”.
Paradoxo, em tempos de bombas “superinte-
ligentes”, nós continuamos fechados, semodese-
jo e a disponibilidade para entender as palavras
de Jesus. Ele sempre tem a paciência de explicar
de novo, de fazer arder o coração de quem lhe
presta atenção. Masnós continuamosdistraídos;
caminhamos na vida que passa sem meta segu-
ra, atraídos por promessas de bens individuais e
passageiros,fascinadospor ilusõesegoístas.Tudo
isso é muito diferente daquilo que Jesus ensinou
e praticou com a sua vida e a sua morte na
cruz. Ele tornou visível a misericórdia
do Pai, a sua bondade, sem exclusões,
com mais atenção aos pequenos, aos
doentes, aos sofredores.Nãodisputou
comosgrandes, os poderosos; oscha-
mou de mandões, opressores e rapo-
sas. Entre osdiscípulosdele nã ;odeve
ser assim. O único “poder” é o servi-
ço, é lavar os pés uns aos outros, como
ele, “o Mestre e Senhor” fez. A frater-
nidade do Evangelho é outra maneira de
viver,de organizar a convivência social, a
economia, a política, a paz entre os povos.
A estrada é longa e cheia de obstáculos, mas
Jesus caminha conosco. Não nos deixa, até reco-
nhecê-lo no gesto da partilha, da vida doada, do
sangue derramado. É a Eucaristia, a memória do
seu amor total. Assimos doisdiscípulos retomam
coragem, o coração, agora, vibra de entusiasmo,
sabem o que devem dizer e fazer. São outras pes-
soas.
Ao longodaquele caminho,foi necessária uma
grande “limpeza”: na vida, nas ideias, nas expec-
tativas deles. Jesus ajudou, sem alarde, desco-
nhecido, trabalhando junto, amigo. A casa ficou
limpa. O jantar uma festa. Sóuma história? Como
aqueladosdiscípulosde Emaúsou ofadigoso“tra-
balho” de todos nós? Quem não tem algo para
jogar fora? É lixo, não serve para nada. Faça uma
fogueira. Não tenha medo. Jesus ajuda.
oda vez que leio o jornal, fico triste em
ver quantas mortes violentas acontecem
todos os dias. É verdade, todos os dias!
Descobri também que as reportagens não rela-
tam quantos, de fato, morrem todos os dias.
Descobri, jornalisticamente, que aquilo que é
noticiado é somente, se posso dizer de manei-
ra bem aproximativa, quase uma amostra de
tantas mortes entre nós. Por exemplo, pelos
meus conhecimentos através dos contatos com
o povo da grande periferia de Belém, descu-
bro quantos jovens foram executados publi-
camente e os jornais nem chegam a mencio-
nar.
O interessante em tudo isso é ver o povo,
diante de cenas macabras, impotente e com
medo. Cala-se perante essa crueldade. Por que
isso? Porque, talvez, ele desconfia de tudo,
não se sente protegido, e a única maneira de
sobreviver é ficar calado. Uma resposta a tudo
isso pode ser encontrada no salmo 55 das
Sagradas Escrituras, em que mostra que esse
povo tem alguém de verdade que pode defen-
dê-lo. E quem é? Leia atentamente:
"Tende piedade de mim, ó Deus, porque
aos pés me pisam os homens; sem cessar eles
me oprimem combatendo. Meus inimigos con-
tinuamente me espezinham, são numerosos os
que me fazem guerra. Ó Altíssimo, quando o
terror me assalta, é em vós que eu ponho a
minha confiança. É em Deus, cuja promessa
eu proclamo, sim, é em Deus que eu ponho
minha esperança; nada temo: que mal me pode
fazer um ser de carne? O dia inteiro eles me
difamam, seus pensamentos todos são para o
meu mal; Reúnem-se, armam ciladas, obser-
vam meus passos, e odeiam a minha vida. Tra-
tai-os segundo a sua iniquidade. Ó meu Deus,
em vossa cólera, prostrai esses povos.
Vós conheceis os caminhos do meu
exílio, vós recolhestes minhas lágri-
mas em vosso odre; não está tudo
escrito em vosso livro? Sempre
que vos invocar, meus inimigos
recuarão: bem sei que Deus está
por mim. É em Deus, cuja pro-
messa eu proclamo, é em Deus que
eu ponho minha esperança; nada
temo: que mal me pode fazer um ser
de carne? Os votos que fiz, ó Deus,
devo cumpri-los; oferecer-vos-ei um
sacrifício de louvor, porque da morte
livrastes a minha vida, e da queda preser-
vastes os meus pés, para que eu ande na pre-
sença de Deus, na luz dos vivos."
O salmo inicia, dramaticamente, com a des-
crição de uma ação militar de perseguição. Os
protagonistas dessa agressão são inimigos sem
nomes que atacam sem piedade o autor da ora-
ção. E faz uma comparação com os caçadores
que estudam todas as possibilidades de como
acertar e pegar a sua caça: “Armam ciladas,
observam meus passos”. Perante uma situa-
ção horrível como essa, cheia de medo,
erguem-se preces a Deus para que liberte des-
sa desumana perseguição. Não tem alternati-
va em confiar no socorro de Deus, porque não
tem mais ninguém para apelar.
Esses perseguidores são apresentados como
‘povos’ talvez para exaltar a potência e a mul-
tidão. Ou talvez pela tentativa de transferir
sobre um plano nacional e comunitário um
acontecimento pessoal e individual. O autor
desse salmo passa depois da dramaticidade
das ameaças e perseguição à tranquilidade de
entrega a Deus, seu verdadeiro refúgio. Por
isso reza: “Vós recolhestes minhas lágri-
mas em vosso odre; não está tudo escrito
em vosso livro?” Justamente, porque no
grande livro da história junta todas as
palavras, as ações, as alegrias de toda a
humanidade e, sobretudo, escreve as
lagrimas que os perseguidores fazem
aos pobres.
Deus junta com carinho todas as lágri-
mas das vítimas e assim não caem no
vazio. Assim sendo, demonstra que as
lágrimas são aos ‘olhos’ de Deus realida-
des preciosas como a água, o vinho, o leite,
substâncias vitais que o peregrino no deserto
guarda no seu odre. Deus grava e conserva como
tesouros todos os sofrimentos da humanidade.
É a história do ser humano pobre e sofrido res-
gatado pelo seu Deus. Assim sendo, revela-se o
primado da soberania de Deus na história do
mundo: é Ele o autor e defensor da vida. Nin-
guém pode ameaçar a vida, não obstante a apa-
rente força dos poderosos deste mundo que
dominam o cotidiano. A Palavra do Senhor liber-
ta e no caminho da luz conduz os seus servos.
O papa Francisco, na audiência geral de 11
de janeiro de 2017, falou o seguinte: “Fé sig-
nifica confiar em Deus — quem tem fé, confia
em Deus — mas chega o momento em que,
confrontando-se com as dificuldades da vida, o
homem experimenta a fragilidade daquela con-
fiança e sente a necessidade de certezas diver-
sas, de seguranças tangíveis, concretas. Con-
fio em Deus, mas a situação é um pouco críti-
ca e eu preciso de uma certeza um pouco mais
concreta. E está ali o perigo! Então somos ten-
tados a procurar consolações até efêmeras, que
parecem preencher o vazio da solidão e aliviar
a fadiga do crer.”
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