Os donos do frigorífico JBS, Joesley e Wesley Batis-
ta, disseram em delação à Procuradoria-Geral da Repú-
blica (PGR) que gravaram o presidente Michel Temer
dando aval para comprar o silêncio do deputado cassa-
do e ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), depois que ele foi preso na opera-
ção Lava Jato. A informação é do colunista do jornal "O
Globo" Lauro Jardim.
Segundo o jornal, o empresário Joesley entregou uma
gravação feita em 7 de março deste ano em que Temer
indica o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR)
para resolver assuntos da J&F, uma holding que con-
trola o frigorífico JBS. Posteriormente, Rocha Lourdes
foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil, envia-
dos por Joesley.
Ainda não há informação sobre se a delação foi homo-
logada. O Supremo Tribunal Federal (STF) disse que
não irá se pronunciar nesta quarta-feira (17) sobre a dela-
ção.
Em outra gravação, também de março, o empresário
diz a Temer que estava dando a Eduardo Cunha e ao
operador Lúcio Funaro uma mesada para que permane-
cessem calados na prisão. Diante dessa informação,
Temer diz, na gravação: "tem que manter isso, viu?"
Na delação de Joesley, o senador Aécio Neves (MG),
presidente do PSDB, é gravado pedindo ao empresário
R$ 2 milhões. No áudio, com duração de cerca de 30
minutos, o presidente nacional do PSDB justifica o pedi-
do dizendo que precisava da quantia para pagar sua defe-
sa na Lava Jato.
A entrega do dinheiro foi feita a Frederico Pacheco
de Medeiros, primo de Aécio, e filmada pela Polícia
Federal (PF). A PF rastreou o caminho do dinheiro e
descobriu que foi depositado numa empresa do senador
Zezé Perrella (PSDB-MG).
Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social
da Presidência disse que o presidente Michel Temer
"jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do
ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou nem auto-
rizou qualquer movimento com o objetivo de evitar dela-
ção ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar".
Aécio, também em nota, se declarou "absolutamen-
te tranquilo quanto à correção de todos os seus atos. No
que se refere à relação com o senhor Joesley Batista, ela
era estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento
com o setor público. O senador aguarda ter acesso ao
conjunto das informações para prestar todos os esclare-
cimentos necessários".
A JBS e a defesa de Eduardo Cunha informaram que
não se pronunciarão.
O senador Zezé Perrella declarou, no Facebook: "Eu
quero dizer para os que me conhecem e para os que não
me conhecem que eu nunca falei com o dono da Friboi.
Não conheço ninguém ligado a esse grupo. Nunca rece-
bi de maneira oficial ou extra-oficial um real sequer des-
sa referida empresa".
"Estou absolutamente tranquilo. [...] Eu espero que
todas as pessoas citadas tenham a oportunidade de escla-
recer a sua participação. O sigilo das minhas empresas,
dos meus filhos, estão absolutamente à disposição da
Justiça. Ficará comprovado que não tenho nada a ver
com essa história. Eu nunca estive em Lava Jato e nun-
ca estarei", afirmou Perrella.
O deputado Rodrigo Rocha Loures está em Nova
York e, segundo sua assessoria, só irá se pronunciar
quando voltar ao Brasil. O retorno está programado para
esta quinta-feira (18).
Segundo o jornal, em duas ocasiões em março deste
ano Joesley conversou com Temer e com Aécio levan-
do um gravador escondido.
O colunista conta que os irmãos Joesley e Wesley
Batista estiveram na quarta-feira passada no Supremo
Tribunal Federal (STF) no gabinete do ministro relator
da Lava Jato, Edson Fachin – responsável por homolo-
gar a delação dos empresários. Diante dele, os empre-
sários teriam confirmado que tudo o que contaram à
PGR em abril foi de livre e espontânea vontade.
Joesley contou ainda que seu contato no PT era Gui-
do Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma
Rousseff. Segundo "O Globo", o empresário contou que
era com Mantega que o dinheiro da propina era nego-
ciado para ser distribuído aos petistas e aliados, e tam-
bém era o ex-ministro que operava os interesses da JBS
no BNDES.
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