O DIÁRIO DO AMAPÁ O DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA 119 E 20 DE JANEIRO DE 2020
LUIZ MELO
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conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem
sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o
debate dos problemas amapaenses e do país. O
Diário do Amapá
busca levantar e fomentar
debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as
diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.
e
DOM PEDRO JOSÉ CONTI - BISPO DE MACAPÁ
Articulista
Roupa de médico
G
ilberto era um médico que trabalhava
numa ambulância. Nunca se preocupa–
va muito com o seu modo de vestir.
Queria usar roupas confortáveis que facilitas–
sem o seu trabalho na hora de socorrer vítimas.
Certo dia, uma senhora muito bem vestida foi
em direção
à
ambulância e perguntou, com
um ar de superioridade e grosseria, onde estava
o médico.
- Boa tarde, senhora. Em que posso ser útil
- respondeu Gilberto.
- Você é surdo?- replicou a mulher-Não
ouviu, quero saber onde está o médico.
- Pois não, senhora, o médico sou eu, em
que posso ser útil - voltou a repetir Gilberto.
- O quê? Você é o médico? Com esta roupa,
eu não ia descobrir nunca.
- Desculpe, senhora, eu achei que estava
procurando um médico e não um terno.
- Desculpe, doutor, mas assim vestido..
- Sabe que eu pensei a mesma coisa vendo
a senhora. Uma mulher tão elegante, com belas
roupas. Pensei que ia sorrir, nos cumprimentar
e desejar bom dia a todos nós. Mas não foi
assim. Tem que reconhecer mesmo que a roupa
não diz muita coisa, não.
Uma pequena história para tentar responder
a uma pergunta curiosa: o que João Batista viu
em Jesus para declarar: - Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo? Com cer–
teza muito mais que a roupa com a qual Jesus
estava vestido. O que ele viu e entendeu de
Jesus? Ele mesmo responde que viu descer e
permanecer sobre ele o Espírito Santo. Por
isso logo acrescenta:" Este &e acute; o
Filho de Deus!".
No início deste breve Tempo
Comum, antes da Quaresma, encon–
tramos esta página do evangelho de
João. No próximo domingo, volta–
remos ao evangelho de Mateus.
Sabemos que o quarto evangelho foi
o último a ser escrito e apresenta os
resultados de uma minuciosa reflexão
teológica. Cada página é um concen–
trado de referências ao Antigo Testa–
mento e, ao mesmo tempo, uma extraor–
dinária novidade de formas para expressar
o anúncio da fé cristã.
É
o evangelista João,
por exemplo, que chama Jesus de "Palavra"
que se fez carne, de Luz do mundo, de Cami–
nho, Verdade e Vida. Essas e outras, são todas
"palavras" que já apareciam nas Escrituras,
como promessas, mas agora levadas ao cum–
primento,
à
plenitude, na pessoa de Jesus, cha–
mado de "Filho de Deus".
Nas palavras pronunciadas por João Batista
está, portanto, uma pequena e maravilhosa
"síntese" da missão de Jesus. Finalmente, che–
gava aquele que ia "tirar o pecado do mundo",
capaz de vencer o mal e a morte, para devolver
a esperança do perdão e da paz
à
humanidade
pecadora. Para a Bíblia, antes dos pecados dos
quais nó ;s, de uma forma ou de uma outra,
somos responsáveis, existe "o pecado do mun–
do" que é, afinal, a recusa do amor de Deus,
a orgulhosa desobediência do ser humano que
sempre cai na tentação de querer "ser como
''
É
o
evangelista
João,
por
exemplo,
que
c!Iama
Jesus
de
"Palavra"que
se tez
carne,
de
Luz do
mundo,
de
CaminlJo,
Venlade
e
Vida.
''
e
CLAUDIO PIGHIN - SACERDOTE E DOUTOR EM TEOLOGIA
Articulista
O
Santo Padre papa Francisco instituiu no
Ili
domingo do Tempo Comum o
"Domingo da Palavra de Deus".
"Com esta Carta, pretendo dar resposta a
muitos pedidos que me chegaram da parte do
povo de Deus no sentido de se poder celebrar
o Domingo da Palavra de Deus em toda a Igre–
ja e com unidade de intenções. Já se tornou
uma prática comum viver certos momentos
em que a comunidade cristã se concentra sobre
o grande valor que a Palavra de Deus ocupa
na sua vida diária. Nas diversas Igrejas locais,
há uma riqueza de iniciativas que torna a
Sagrada Escritura cada vez mais acessível aos
crentes para os fazerem sentir-se agradecidos
por tão grande dom, comprometidos a vivê-lo
no dia a dia e responsáveis por testemunhá-lo
com coerência.
O Concílio Ecuménico Vaticano II deu um
grande impulso
à
redescoberta da Palavra de
Deus, com a constituição dogmática Dei Ver–
bum. Das suas páginas que merecem ser sempre
meditadas e vividas, emergem de forma clara a
natureza da Sagrada Escritura, a sua transmissão
de geração em geração (cap. II), a sua inspiração
divina (cap. III) que abraça o Antigo e o Novo
Testamento (caps. IV e V) e a sua importância
para a vida da Igreja (cap. VI). Para incrementar
esta doutrina, Bento XVlconvocou em 2008
e na missão da Igreja» e, depois dela,
publicou a exortação apostólica Ver–
bum Domini, que constitui um ensi-
ti•l:I
namento imprescindível para as nos–
sas comunidades. Neste Documento,
aprofunda-se de modo particular o
caráter performativo da Palavra de
Deus, sobretudo quando, na ação litúr–
gica, emerge o seu caráterpropriamente
sacramental.
Por isso, é bom que não venha jamais
a faltar na vida do nosso povo esta relação
decisiva com a Palavra viva, que o Senhor nunca
Se cansa de dirigir
à
sua Esposa, para que esta
possa crescer no amor e no testemunho da fé.
Portanto estabeleço que o III Domingo do
Tempo Comum seja dedicado
à
celebração,
reflexão e divulgação da Palavra de Deus. Este
Domingo da Palavra de Deus colocar-se-á,
assim, num momento propício daquele período
do ano em que somos convidados a reforçar os
laços com os judeus e a rezar pela unidade dos
cristãos. Não se trata de mera coincidência tem–
poral: a celebração do Domingo da Palavra de
Deus expressa uma valência ecuménica, porque
a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam
à
sua escuta, o caminho a seguir para se chegar
''
Nesle Domingo,em particular,
será
útil
colocar
em evidência
a
sua
proclamação
eadaptar
a
homilia
para se pôr
em
destaque
o
serviço
que
se
presta
à
Palavra
do
Senhor.
Deus". Depois, no tempo de Jesus - que
é agora o nosso tempo - "o pecado"
é
a
_.;J
rejeição do próprio Cristo, a Palavra–
Luz: "Veio para o que era seu, mas
os seus não a receberam (Jol,11)".
"E a luz brilha nas trevas, e as trevas
não a dominaram" (Jol,5). Também,
para o evangelista João, Jesus
é
o
"novo" cordeiro da "nova" Páscoa,
da "nova e eterna Aliança". Na cruz
se cumpre a Escritura: "nenhum dos
seus ossos lhe será quebrado" (Jo 19,36),
justamente como devia ser para o cordeiro
na noite da saída do Egito e do seu memorial
(Ex 1 2,10.46; Nm 9,12).
A conclusão é simples: mais uma vez somos
convidados a aprimorar o nosso olhar a Jesus.
Ao longo do ano litúrgico, iremos lembrar tan–
tas circunstância e eventos da sua vida. Iremos
ouvir de novo tantas das suas palavras. No
entanto, a luta entre a luz e as trevas continua.
Sabemos e acreditamos que a vitória final será
da "luz verdadeira, que vindo ao mundo, a
todos ilumina" (Jol,9), mas a cada dia preci–
samos acolhê-la novamente e deixar que seja
luz para as decisões que tomamos continua–
mente. Numa hora de dúvida a quem recorrer?
A quem perambula na escuridão da existência,
também se aparenta saber tudo e ter a solução
para tudo? Cabe a cada um de nós escolher
por qual "luz" orientar-se. Que seja, por enquan–
to, ao menos, um peregrinar "na penumbra da
fé". Melhor desconfiar das roupagens bonitas,
elas enganam.
a uma unidade autêntica e sólida.
As comunidades encontrarão a fonna
de viver este Domingo como um
dia
solene. Entretanto será importante que,
na celebração eucarística, se possa
entronizar o texto sagrado, de modo
a tornar evidente aos olhos da assem–
bleia o valor normativo que possui a
Palavra de Deus. Neste Domingo, em
particular, será útil colocar em evidên–
cia a sua proclamação e adaptara homi–
lia para se pôr em destaque o serviço que
se presta
à
Palavra do Senhor. Neste
Domingo, os Bispos poderão celebrar o rito
do Leitorado ou confiar um ministério seme–
lhante, a fim de chamar a atenção para a impor–
tância da proclamação da Palavra de Deus na
liturgia. De facto, é fundamental que se faça todo
o esforço possível no sentido de preparar alguns
fiéis para serem verdadeiros anunciadores da Pala–
vra com uma preparação adequada, tal como já
acontece habitualmente com os acólitos ou os
ministros extraordinários da comunhão. Da mes–
ma maneira, os párocos poderão encontrar formas
de entregar a Bíblia, ou um dos seus livros, a toda
a assembleia, de modo a fazer emergir a impor–
tância de continuar na vida diária a leitura, o apro–
fundamento e a oração com a Sagrada Escritura,
com particular referência
à
lectio divina."