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e

DIÁRIO DO AMAPÁ

e

TERÇA-FEIRA 1

21

DE JANEIRO DE

2020

Opinião

1

jornal ,,

,,

DIARIO AMAPA

LUIZ MELO

ZIULANA MELO

ZIULANA MELO

Editora Chefe

MÁRLIOMELO

DirNor Administrativo

Direror Superimendeme Dirernra de Jornalismo

COMPROMISSO COM ANOTICIA

DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA.

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Administração, Redação e Publicidade

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CEP 68900-101 Macapá (AP)

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.diariodoamapa.com.br

Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os

conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem

sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicaçCies são com o propósito de estimular o

debate dos problemas amapaenses e do país. O

Diário do Amapá

busca levantar e fomentar

debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as

diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.

e

JOÃO BAPTISTA HERKENHOFF - PALESTRANTE E ESCRITOR

Articulista

As alegrias de um aposentado

A

lgumas pessoas celebram felizes a

aposentadoria. Outras a recebem

com um certo sofrimento. De minha

parte tive uma sensação de vazio quando

me aposentei.

Juiz aposentado, professor aposentado?

Isto não é profissão. A condição de apo–

sentado não desmerece ninguém. Contudo

não define uma profissão.

Certo dia veio a inspiração e eu me auto–

defini: sou um Professor itinerante. E é isso

que tenho feito. Ministro seminários e pro–

firo palestras pelo Brasil afora.

Se o aposentado sentir-se feliz, sorvendo

simplesmente a aposentadoria, essa atitude

não merece qualquer reparo. Ele fez jus ao

que se chama ócio com dignidade (otium

cum dignitate).

O pedagogo tcheco Comenius

ensina:

"No ócio, paramos para pensar.

Paramos externamente para correr

no labirinto do autoconhecimento.

Não se trata de perder o tempo,

mas de penetrar no tempo para

mergulhar no essencial."

Se quem se aposentou deve des–

frutar da aposentadoria serenamente,

numa situação inversa a aposentadoria

não tem de marcar, obrigatoriamente, um

encerramento de atividades.

O aposentado tem experiência e pode

transmitir experiência, o que resulta num

benefício para a sociedade.

Triste é constatar que, em algumas situa–

ções, a aposentadoria é insuficiente para

os gastos da pessoa e de sua família

~---

obrigando o aposentado a trabalhar

para complementar o parco bene–

c>ll'!~01'i~':'i'it'.91..1Q:l!!llB

fício que lhe é pago. Nestas hipó–

teses, estamos diante de um grande

desrespeito

à

dignidade da pessoa

humana.

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Se

alguma

diferença

devesse

ser

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ativos e

inativos

seria

para

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favorecimeJJto osinativos ' '

Se alguma diferença devesse ser

estabelecida entre ativos e inativos

seria para aquinhoar com favoreci–

mento os inativos, uma vez que a idade

provecta cria gastos com saúde, que nor–

malmente não alcançam os servidores mais

jovens.

No meu caso não continuei trabalhando

para suplementar renda, mas sim para aten–

der um apelo existencial.

Gosto de viajar, alegra-me conhecer luga–

res e pessoas, minha mulher também gosta

e aí vamos nós desbravando o Brasil.

e

INGERE. BURNETT-ZEIGLER - PROFESSORA ASSISTENTE DE PSIQUIATRIA DA UNIVERSIDADE NORTHWESTERN.

Articulista

As mulheres negras, fortes e estressadas

A

pesar de tudo isso, menos de 50%

das negras adultas com necessidades

mentais recebem tratamento. A ver–

gonha é o principal empecilho. E geral–

mente preferem um(a) profissional

negro(a), embora haja poucos assistentes

sociais, psicólogos e psiquiatras de cor.

Nas comunidades de baixa renda, esses

serviços são raros e as listas de espera,

longas. Para piorar, mais de 16% delas

não têm seguro-saúde, e a maioria não tem

condições de arcar com o tratamento.

Enquanto isso, o desgaste psicológico

de ser uma "mulher negra forte" afeta a

mente e o corpo.

Tradicionalmente, ela busca força em

Deus. A igreja oferece um espaço para o

companheirismo, o apoio social e a orien–

tação espiritual; entretanto, nem sempre

aprova o tratamento secular da saúde men–

tal e os fiéis podem achar que sua fé está

sendo posta

à

prova se procurarem uma

ajuda extra.

Para substituir a terapia, algumas pes–

soas lidam com a ansiedade consumindo

alimentos nocivos e/ou comendo demais,

fumando, abusando das bebidas alcoóli–

cas, passando tempo demais na cama ou

vendo tevê - e, embora esses comporta-

mentos até ofereçam alívio tempo–

rário, o estresse e a depressão

podem surgir na forma de irrita–

bilidade, raiva, dores físicas e

doenças crõnicas.

O estresse e a depressão estão

intimamente ligados a problemas

crõnicos de saúde como obesida–

de, diabete e hipertensão, predo–

minantemente entre as negras, cuja

expectativa de vida é três anos menor

que a das brancas (78 anos contra 81).

A Sra. T. lembra a minha avó, que saiu

de Montgomery, no Alabama, para morar

em Chicago, mãe solteira fugida de um

relacionamento abusivo com um alcoó–

latra. Morou no conjunto habitacional

Jane Addams, era costureira de dia e cur–

sava o Herzl Junior College

à

noite. Gra–

ças ao trabalho, evitou recorrer a assis–

tência pública, conquistou um diploma

universitário, fez mestrado e conseguiu

economizar a ponto de garantir minha

educação em uma das melhores institui–

ções do país. Ela também foi assaltada

uma vez, chegando em casa com a bolsa

em pedaços para provar sua resistência.

Minha avó foi o símbolo máximo da

"mulher negra forte".

''

O

estresse

ea

depressão

estão intimamente

ligados

a

problemas

crônicos de

saúde como obesidade,

diabete

e

hipertensão.

''

Mas e as dificuldades pessoais

que enfrentou, a tristeza, o medo?

Aposto que sentiu tudo isso, só

que nunca falamos a respeito.

Muitas negras foram condi–

cionadas a acreditar que têm de

ser fortes para sobreviver, mas o

fato é que não podemos manter a

força da mulher negra sem reco–

nhecer o estresse que a acompanha;

do contrário, estabelecemos expec–

tativas pouco razoáveis para os limites

de que ela é capaz de aguentar.

Algumas mudanças nesse sentido já vêm

acontecendo: grupos como o Black Girl in

Om e Gir!Trek estão trabalhando na cons–

cientização sobre a importância do auto–

cuidado e fornecendo opções para um estilo

de vida mais saudável.

Precisamos acabar com a narrativa única

do que significa ser uma negra forte. As

mulheres de cor tiveram que tirar forças da

necessidade de suprir a si mesmas e suas

famílias quando não tinham mais ninguém

com que contar, o que deve ser aplaudido

em pé - mas há força também na vulnera–

bilidade, no alívio de saber que não se está

só e no poder de reconhecer o momento de

pedir ajuda.