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2

Opinião

1

jornal ,,

DIARI01~

COMPROMISSO COM ANOTÍCIA

e

DIÁRIO DO AMAPÁ

e

QUARTA-FEIRA 115 DE JANEIRO DE 2020

LUIZ MELO

ZIULANA MELO

Direror Superimendeme Dirernra de Jornalismo

ZIULANA MELO

Editora Chefe

MÁRLIOMELO

Direror Adminisrralivo

DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA.

Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os

conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem

sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o

debate dos problemas amapaenses e do país. O

Diário do Amapá

busca levantar e fomentar

debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as

diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional.

C.N.P.J: 02.401.125/0001-59

Administração, Redação e Publicidade

Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro

CEP 68900-101 Macapá (AP)

Fone: 99165-4286

www.diariodoamapa.com.br

e

SILVANA MARIA DOS SANTOS

É

NUTRICIONISTA, ESPECIALISTA EM SAÚDE COLETIVA, MESTRE EM ANTROPOLOGIA SOCIAL

Articulista

Alimentação adequada e opapel do Estado

A

alimentação é considerada, no artigo 3° da

Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080/90), ele–

mento determinante e condicionante da

saúde. Também é assumida como direito humano

fundamental e social previsto nos artigos 6º e 227°

da Constituição Federal, definido pela Lei Orgâ–

nica de Segurança Alimentar e Nutricional

(Losan), bem como no artigo 11 do Pacto Inter–

nacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cul–

turais e outros instrumentos jurídicos internacio–

nais. Decorre daí que o Estado brasileiro assuma

a concepção da alimentação em termos de direito

humano à alimentação adequada (DHAA), que

deve ser efetivado levando em conta as noções

de segurança e soberania alimentar.

A segurança alimentar e nutricional consiste

na garantia de condições de acesso aos alimentos

seguros e de qualidade, em quantidade suficiente,

de modo permanente e sem comprometer o acesso

a outras necessidades essenciais. Tal compreensão

deve ser considerada em articulação com a noção

de soberania alimentar, o que implica dizer que

cada país tem o direito de definir suas próprias

políticas e estratégias sustentáveis de produção,

distribuição e consumo de alimentos que garantam

o direito à alimentação para toda popula- ,.

ção, respeitando as múltiplas caracterís–

ticas culturais dos povos.

Desses conceitos desdobra também

importante consideração acerca da

complexidade do que seja alimentação

adequada. A adequação não deve ser

tomada somente do ponto de vista bio–

lógico/nutricional, dada a complexida–

de que marca as escolhas e as práticas

alimentares. A atenção

à

alimentação

deve ser adequada também (e sobretudo)

do ponto de vista da possibilidade de manu–

tenção da diversidade cultural alimentar.

Comida é também identidade e cultura, de modo

que a possibilidade de cultivar hábitos e práticas

alimentares culturalmente constituídas são qua–

lidades do universo micmssocial que conformam

dimensões macroeconômicas e políticas, e vice–

versa.

De acordo como o entendimento da Organi–

zação das Nações Unidas para a Alimentação e a

Agricultura (FAO), leis específicas podem: deter–

minar de forma clara o âmbito e o conteúdo do

Cada pais

tem

odireito de

defink

suas

próprias

políticas

e

estratégias

sustentáveis

de

produção,

distribuição ' '

direito à alimentação; definir as obrigações

do Estado relativamente a este direito; criar

os mecanismos institucionais necessários;

fornecer as bases jurídicas para orientar

e implementar as políticas e qualquer

regulamentação ou medidas que devam

ser adotadas pelas autoridades compe–

tentes; reforçar o papel a ser desempe–

nhado pelo poder judiciário na aplicação

do direito à alimentação; capacitar os

titulares do direito para exigir que o

governo cumpra as suas obrigações; for–

necer as bases jurídicas para a adoção de

medidas com vista a corrigir as desigualda–

des sociais existentes no acesso à alimentação;

criar os mecanismos financeiros para a imple–

mentação da lei.

Desse modo, é fundamental que a administração

pública (governo), a partir de seus marcos legais

específicos, faça cumprir as obrigações do Estado,

construindo estratégias para assegurar acesso

à

ali–

mentação adequada, com base no conhecimento

prévio do universo cultural alimentar dos grupos a

quem se destinam e com foco na produção local

de alimentos.

e

RODRIGO CONSTANTINO, ECONOMISTA EJORNALISTA,

É

PRESIDENTE DO CONSELHO DO INSTITUTO LIBERAL.

Articulista

Discriminação e desigualdade

M

uitas pessoas obsetvam as discrepâncias esta–

tísticas na sociedade e concluem automati–

camente que elas se devem a algum tipo de

preconceito, de discriminação. Os salários mais bai–

xos, na média, das mulheres ou dos negros precisam

ter urna expLicação no machismo ou racismo, pensam

essas pessoas. Mas será que isso faz algum sentido?

Thomas Sowell mergulhou nesse tema em seu novo

livro, Disaimination and Disparities.Como de praxe,

SoweUtraz argumentos sól.idos, lógica e dados con–

cretos para o debate, ou seja, não fala a quem só quer

repetir slogans ou monopolizar as virtudes em busca

de uma sensação artificial de superioridade moral.

Ele fala a quem querpensar. O autordesperta a fúria

dos lideres de movimentos de"minorias" justamente

por isso: ao focar na verdade, descarta o sensacio–

nalismo. O fato de ser negro é uma agravante, pois

anula a possibilidade de rejeitar seus pontos com

base na acusação de racismo. O livro é dedicado a

outro liberal negro, o professorWalter Williams,que

também tem um livro desmontando a falácia do racis–

mo como bode expiatório para desigualdades e mos–

trando que o livre mercado é o melhor amigo dos

negros (e brancos, mulheres, gays etc.).

Logo no começo, Sowell lança uma provocação

sobre as chances de sucesso em alguma área qualquer.

Ele nos pede para imaginar uma atividade em que

as chances de alguém ter qualquer um dos cinco

requisitos básicos para destaque sejam de dois terços,

uma chance elevada. Mas, se o sucesso demanda os

cinco requisitos juntos, então a possibilidade de

alguém unir todos cai para 32/243, ou seja, apenas

um em oito, aproximadamente. Com esse exercício

hipotético simples, Sowell lembra-nos que é absurdo

esperarum sucesso igualmente distribuído pela socie–

dade,de forma aleatória.Alguns indivíduos ou

grupos

ou nações conseguem desenvolver,ao longo do tem–

po, certos atributos que levam ao destaque, a uma

conquista que somente parcela ínfima do todo terá.

Alguém pode ter um talento natural, mas não teve

boas oportunidades. Outro pode ter oportunidades e

talento, mas é preguiçoso. E por aí vai.

SowelJ tem apreço pela comprovação

empírica das teorias, e mostra ao longo do

livro que as evidências não sugeremo pre–

conceito como fator crucial para as dis–

paridades encontradas.São muitos fato–

res em jogo e, como basta falhar em

alguns para obter resultados bem dife–

rentes, a explicação se mostra muito mais

complexa no mundo real. Até mesmo

filhos dos mesmos pais, criados no mesmo

ambiente, apresentam resultados distintos,

1oo

o que anula a possibilidade de discriminação ' ""

nesses casos.

O ambiente familiar, aliás, aprece como fator

importante nas pesquisas, assim como o fator ruhural.

Por isso Sowellcritica tanto a narrativa de vitimização

típica das "minorias", em especial o ataque à alta

cultura nos guetos dominados por negros. Com mais

de 70% dos filhos de negros americanos sem a figura

do pai em casa, e com a acusação de "agir como

branco" se for buscarum aprendizado correto da lín–

gua ou formação clássica, fica complicado se destacar

depois.

Poucos povos sofreram tanto preconceito como

o judeu. No entanto, isso não os impediu de enormes

conquistas. Quando direitos iguais foram concedidos,

primeiro pelos Estados Unidos no final do século 18,

depois pela Europa, o fluxo de judeus para univer–

sidades deslanchou. Com a ajuda do aspecto cultural,

o "povo do livro" se destacou em diversas áreas.

Com menos de 1

%

da população mundial, judeus

receberam 22% dos Prêmios Nobel em Química,

32% em Medicina e 32% em Física. Sowell divide

a discriminação em duas categorias, sendo a primeira

aquela necessária para nossa tomada de decisãoracio–

nal, baseada em fatos, e a segunda sendo o precon–

ceito, com base em premissas arbitrárias como aver–

são ao sexo ou "raça".Todas as políticas estatais sur–

gem como reação ao segundo tipo, mas ele não é o

único, nem sequer o predominante. Muitas vezes as

''

É

absurdo

esperar

um

sucesso

igualmente

distribuído pela

sociedade,

de

forma aleatória ' '

pessoas julgam e discriminam com base em

fatos, e todos nós discriminamos o tempo

todo- é a própria definição de escolha. Pre–

ferir uma marca a outra é "discriminar'',

nesse primeiro sentido.

O mercado avalia desempenho, e às

vezes, para economizar o custo da infor–

mação individual, faz isso por meio de

agregados,de estatística, sendo impossí–

vel fazê-lo caso a caso. Homens jovens

pagam mais caro pelo seglli'O do carro, pois

costumam causar, na média, mais acidentes.

Não é um preconceito, e sim uma discrimi–

nação racional da seguradora. Se, de forma aná-

loga, negros praticam mais crimes, na média, serão

abordados com maior frequência pela polícia. Discri–

minação racional, ou pum preconceito racial como

supõe a esquerda?

Utiliza-se o fato de que a proporção de negros

presos é bem maior que os 13% da população que

representam, mas alguém que alegasse viés racial

para falar da grande quantidade relativa de negros

na NBA seria ridicularizado pela evidente falácia

lógica, aponta Sowell. Correlação não é o mesmo

que causalidade e a presença desproporcional em

alguma coisa qualquer não é prova de racismo ou

preconceito.

Mas as estatísticas manipuladas ignoram isso e

focam nas disparidades de grupos como se fossem

resultado do preconceito, nada mais. Ao se falar dos

1% mais ricos, ou dos 20% mais pobres, ignora-se a

enorme mobilidade dentro dessas faixas, como se

elas fossem formadas pelos mesmos indivíduos, num

grupo estanque. Nada mais falso. Entre os mais ricos

de hoje, menos da metade fazia parte desse grupo há

uma década, e entre os mais baixos salários há muitos

que são apenas jovens começando no mercado de

trabalho, e vão ascender na vida depois. Detalhes

bobos para quem quer o efeito sensacionalista de

chamadas sobre a desigualdade, para quem coloca a

retórica acima da verdade.